por Denise de Almeida

Ideias, pensamentos e/ou comportamentos que podem parecer absurdos ou ridículos até para a própria pessoa e, mesmo assim,  são incontroláveis, repetitivos e persistentes podem ser sinal do chamado TOC, Transtorno Obsessivo Compulsivo.

Durante muitos anos considerada uma doença rara por profissionais especializados em saúde mental porque apenas pequena minoria de seus pacientes queixava-se de sintomas compatíveis com essa condição, acredita-se que, ainda hoje,  muitas pessoas atormentadas pelo TOC,  tentam esconder seus pensamentos e comportamentos repetitivos, e, por isso, não procurem ajuda.

Pesquisa recente realizada pelo National Institute of Mental Health (NIMH) –  o departamento oficial que financia pesquisas sobre cérebro, doenças mentais e saúde mental, em nível nacional nos EUA –  demonstrou que o  transtorno afeta cerca de 2% da população mundial, o que significa dizer que é mais comum do que a esquizofrenia, por exemplo.

No Brasil, a Astoc,  Associação Brasileira de Síndrome de Tourette, Tiques e Transtorno Obsessivo Compulsivo, desde 1996, faz um trabalho constante  de esclarecimento da doença e procura orientar familiares e cuidadores sobre como agir diante de um portador de TOC.

 

Obsessão e compulsão

 

De acordo com Rosana Mastrorosa,  psicóloga especializada e orientadora de grupos de apoio da Astoc, o  TOC é uma condição psiquiátrica crônica que pode ser grave e muitas vezes debilitante, mas que, como todos os transtornos de ansiedade, é tratável.

Ela explica que o paciente com TOC está constantemente ansioso e apresenta pensamentos obsessivos, que o fazem executar comportamentos repetitivos (compulsões)  para aliviar sua ansiedade ou sofrimento. “Na linguagem popular costuma-se dizer que o indivíduo tem várias ‘manias’ que são esquisitas ou estranhas,  mas, normalmente, o portador de  TOC sabe que elas são excessivas ou irracionais”, revela Rosana.  “Porém, o pensamento obsessivo toma conta de sua mente de tal forma, que ele sente-se obrigado,  por exemplo, a lavar as mãos repetidas vezes até sentir-se aliviado, ainda que isso o machuque”, diz.

Obsessão e compulsão por limpeza e contaminação,  verificação e contagem de objetos, moralidade religiosa e sexual, ordenação e arranjo, além de rezar e colecionar,  são as mais comuns entre os pacientes.

Vergonha 

Não se sabe ao certo as causas da doença, mas, acredita-se que pessoas que desenvolvem TOC tenham uma predisposição biológica a reagir de forma acentuada ao estresse.  Tal reação se manifesta sob a forma de pensamentos desagradáveis, que geram mais ansiedade e estresse,  criando, por fim, um círculo vicioso do qual a pessoa não consegue sair sem ajuda.

E, por ser repulsivo e contrário à índole do paciente, é comum que escondam de amigos e familiares, tanto por vergonha quanto por terem noção do absurdo das exigências autoimpostas.

“Muitas vezes, inclusive, elas desconhecem que esses problemas fazem parte de um quadro psiquiátrico tratável e cada vez mais responsivo a medicamentos específicos e à psicoterapia”, ressalta Rosana.  “No entanto, há componentes psicológicos e biológicos no TOC e é importante que o diagnóstico seja feito o mais breve possível”,  observa.

A  psicóloga destaca que só se  considera que uma pessoa tenha TOC quando seus comportamentos atinjam gravidade suficiente para interferir em sua vida cotidiana. O tratamento pode melhorar as condições de vida do portador e de seus familiares,  fornecendo ferramentas para ajudar a gerenciar os sintomas e recuperar atividades sociais e funcionais perdidas.  “O não tratamento do TOC pode, inclusive,  levar ao desenvolvimento de outros problemas de saúde mental como depressão, por exemplo, e pode afetar o bem estar físico”, afirma.  

Tratamento

 

Rosana explica também que os sintomas podem tornar-se  menos graves de tempos em tempos, podendo haver longos intervalos com sintomas discretos,  mas o TOC tende a persistir por muitos anos, até mesmo décadas.  Daí, a importância do tratamento, que deve ser individualizado,  dependendo das características e da gravidade dos sintomas que o paciente apresenta.

Em linhas gerais,  de acordo com a psicóloga, utiliza-se a psicoterapia associada ao tratamento farmacológico, com antidepressivos em doses bem elevadas.

“Receber apoio do cuidador, de familiares e amigos, facilita ao portador seguir o tratamento e obter sucesso”,  enfatiza Rosana,  que destaca que para melhor convivência de todos é necessário que o transtorno seja aceito e compreendido por aqueles que convivem com o portador. “Pessoas com esses transtornos estão em sofrimento e precisam de tratamentos eficazes para um bom enfrentamento”,  finaliza.

 

Orientações para o paciente*

 

 Procurar informações a respeito;

 Lembrar que o que acontece não tem a ver com falta de caráter ou preguiça;

 Procurar fazer coisas de que goste;

● Diante de um problema,  não fugir ou fingir que ele não existe.  Procurar formas de resolvê-lo, se possível conversando com os outros para identificar outras formas de lidar com uma mesma situação;

 Aos poucos,  tentar questionar se seus medos e preocupações pode realmente causar tudo aquilo;

● Aos poucos,  tentar enfrentar situações temidas,  tentar se controlar ou deixar de fazer os rituais. Lembre-se de começar sempre por aqueles rituais e medos que menos incomodam,  e fazer todo dia algum tipo de exposição que dure, pelo menos, uma hora e meia, ou o tempo necessário para a ansiedade diminuir.

 

Orientações para família e amigos*

 

Além de se apropriarem das orientações anteriores,  é importante lembrar que:

 

 A pessoa não está assim porque quer.  Ela provavelmente está sofrendo, e não sabe outra forma de resolver sua situação;

 Dizer o que tem que ser feito,  mas que não faz o menor sentido, dificilmente tem resultados, e acaba gerando desentendimentos;

 Pressionar e/ou criticar também não ajuda.  Embora pareça que ajude em alguns momentos, em longo prazo não funciona;

● Observar em quais situações os rituais acontecem  e, se possível estar perto,  dar atenção ou qualquer outro tipo de reforço antes de a pessoa começar a fazer os rituais;

● Se você costuma ajudar nos rituais,  ou estar perto quando o medo está mais intenso,  procure aos poucos tirar um pouquinho da sua presença nesses momentos;

● Incentivar qualquer forma de habilidade da pessoa,  lembrando que nem sempre o elogio é a melhor forma de se fazer isto;

 Cuidar dos seus próprios problemas.  Observe se sua vida não está em função dos cuidados para com o paciente de TOC.  Se esse for o caso, é importante reconstruir sua própria vida.  Só então será possível ajudar o outro;

 Olhar e valorizar as coisas que o portador tem conseguido fazer,  e não o contrário;

 Procurar grupos de apoio a familiares, orientação familiar,  terapia familiar ou até mesmo terapia individual.

 

*   Fonte:  Associação Brasileira de Síndrome de Tourette, Tiques e Transtorno Obsessivo Compulsivo.