por Márcia Alves

No mercado internacional, os preços dos combustíveis são bastante suscetíveis a fatores de natureza econômica e geopolítica. Em 2011, a instabilidade política em países do Norte da África e no Oriente Médio causou turbulências no mercado internacional de petróleo, provocando a alta de preços. A mesma situação vem ocorrendo desde que a China, que cresce a ritmo acelerado, passou a ser responsável por aproximadamente 9% das importações de petróleo, influenciando a dinâmica de oferta e demanda no mercado internacional. Também a crise econômica europeia contribuiu para elevar os preços dos combustíveis em diversas partes do mundo.

No Brasil, porém, apesar da volatilidade dos preços do petróleo e seus derivados no mercado internacional, os preços da gasolina A continuam estáveis. A explicação está na política de preços da Petrobras, responsável por mais de 95% da gasolina A comercializada no país. Os aumentos e as reduções nos preços de produção da gasolina têm sido compensados integralmente ou em parte por diminuições ou acréscimos da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), sem impactos ao consumidor.

Todo esse cenário, interno e externo, do comportamento de preços dos combustíveis foi analisado em profundidade pela Agência Nacional do Petróleo Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) no Boletim Anual de Preços, lançado em março. A publicação apresenta um exame detalhado dos aspectos estruturais e tendências do comportamento de preços, analisando os principais fatores econômicos e geopolíticos que contribuem para uma melhor compreensão tanto da flutuação, quanto da formação das expectativas com relação à sua evolução.

Cenário brasileiro

O boletim analisa, por exemplo, os fatores que levaram ao aumento de preços do etanol no país. O aumento na demanda por gasolina C, segundo a publicação, foi resultado da migração dos consumidores do etanol hidratado combustível para a gasolina comum, particularmente no estado de São Paulo, maior consumidor nacional. Em um cenário de restrição da oferta de etanol, a demanda foi pressionada, os preços do produto aumentaram, desde março do ano passado, gerando impactos sobre o preço final da gasolina.

Um primeiro fator que levou à elevação dos preços de etanol combustível (anidro e hidratado) na etapa de produção foi a escalada dos preços do açúcar no mercado internacional, que reduziu significativamente a vantagem econômica para o direcionamento da produção das usinas para o etanol hidratado. A destinação de cana-de-açúcar para a produção de etanol na safra 2010/2011 caiu em 0,36%, quando comparada à safra anterior. Ao passo que para a produção de açúcar, registrou aumento de 7,85% em relação ao mesmo período. Este movimento reduziu a oferta de etanol combustível no mercado.

Diante do exposto, o boletim da ANP analisa que a alta dos preços médios de revenda e de distribuição da gasolina comum no ano de 2011, de 5,28% e 4,39%, respectivamente, foi, em grande parte, reflexo da escassez de oferta de etanol anidro combustível durante o período de entressafra em um contexto de aumento contínuo da participação dos carros flex fuel na frota nacional de veículos. Essa situação foi agravada pelo aumento das cotações internacionais de açúcar, o que incentivou a exportação do produto e, portanto, a maior produção de açúcar em detrimento do etanol.

Previsões

De acordo com a análise da ANP sobre a volatilidade dos preços, as turbulências associadas à crise europeia e a instabilidade geopolítica decorrente das novas sanções contra o Irã podem proporcionar grande instabilidade às cotações em 2012. Porém, o comportamento dos preços não deve se manter no mesmo patamar de 2011. Espera-se que, no curto prazo, os preços da gasolina comercializada pelos postos revendedores dos Estados Unidos registrem incremento em função da participação do etanol combustível em sua composição.