por Denise de Almeida

O etanol está em crise mais uma vez. Levantamento da Força Sindical entregue à  presidente Dilma Rousseff no final de março aponta que 24 das 460 usinas de açúcar e  etanol do país não irão processar a safra 2012/2013. As causas, segundo o vice-presidente da Força Sindical, Antonio Vitor, ainda são os impactos na cadeia produtiva de  açúcar e etanol da crise mundial de 2008 e 2009, além da redução da oferta de cana na  última safra por conta do clima desfavorável.

Mas não seria só esse o problema de acordo com o sindicalista. “O governo tem uma  postura clara de incentivar o pré-sal e não cria um marco regulatório para o setor  produtivo de açúcar e etanol”, afirma.

De fato, a falta de uma política nacional voltada à indústria da cana-de-açúcar tem  inquietado o mercado. Segundo especialistas, mesmo com a demanda energética  aquecida, oscilações no mercado de petróleo e mudanças climáticas, nada justifica a  negligência do país com opções limpas, renováveis e competitivas como o etanol.

Em sua carta de renúncia ao cargo de presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), entregue à entidade no final de março, o empenhado Marcos Jank afirma  que após quatro anos de amplo acesso às mais altas esferas do governo e de expansão  de suas atividades, “no ano de 2011 passamos a enfrentar dificuldades internas e  externas, em decorrência da desaceleração dos investimentos, uma quebra de safra sem  precedentes e um intenso processo de consolidação que alterou radicalmente o perfil das  grandes empresas do setor. (...) Ao mesmo tempo, o setor também enfrentou dificuldades  estruturais, como o conflito entre o forte aumento de custos dos últimos anos e o teto  imposto ao preço do etanol”.

Como resultado, há sobreutilização do combustível fóssil, com a importação de gasolina,  e subutilização dos renováveis, cujas usinas, endividadas, não têm como fazer novos  financiamentos para tocar a atividade, seja no campo ou na indústria.

´Enquanto não houver uma política clara, de longo prazo, estabelecendo regras e critérios  para o etanol na matriz energética, não haverá como acabar com essa crise´, afirma o  diretor técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues, que assumiu o cargo de diretor-presidente interinamente.  Segundo ele, Unica e governo  estão retomando os diálogos  para entendimento neste sentido. "Houve mudanças internas  na Unica para facilitar esse  entendimento”,  diz.

“É preciso que o etanol tenha as mesmas condições de concorrência da gasolina, que  ficou por seis anos sem reajuste”, afirma Celso Torquato de Junqueira Franco, presidente  da União dos Produtores de Bioenergia (Udop). “E que o governo defina a participação do  etanol na matriz energética, estabelecendo mecanismos para que o setor possa  direcionar seus investimentos e continue a crescer”, completa.  

Enquanto isso há quem defenda transformar o etanol hidratado em um novo produto para  carros flex, ofertando um combustível com 40% de etanol e 60% de gasolina. “Este  percentual pode aumentar ou diminuir de acordo com intempéries climáticas ou excesso  de produção, e 90% da nova frota de veículos poderá ser atendida sem problemas”,  afirma um de seus defensores, Dib Nunes Jr., presidente do Grupo Idea, uma empresa de  consultoria em gestão agroindustrial.

Para os revendedores, essas idas e vindas da matriz energética também não são  benéficas. “Não nos importamos em vender gasolina com mais ou menos etanol. O que  não podemos é também sofrer as intempéries do mercado, com produtos inacessíveis ao  consumidor”, revela José Alberto Paiva Gouveia, presidente do Sincopetro.