- ANÁLISE
por Cristiane Collich Sampaio
Apesar da crise de abastecimento, e do ônus com que a revenda e a população tiveram de arcar, não há como negar a importância da greve dos caminhoneiros na redução dos tributos federais sobre o diesel e na suspensão das alterações, praticamente diárias, nos preços do combustível nas refinarias”, declara o presidente do Sincopetro, José Alberto (Zeca) Paiva Gouveia. Tais reivindicações – ainda que extensivas a todos os combustíveis automotivos – já faziam parte da pauta do setor, colocada na mesa de discussões com o governo e o Legislativo há vários meses. Os reajustes quase que diários nos preços das refinarias – praticados pela Petrobras de acordo com a cotação internacional do petróleo e do dólar –, aliados à elevadíssima carga de impostos – que torna a sonegação uma estratégia altamente rentável e desequilibra o mercado –, vêm causando grandes prejuízos para a revenda.
Os caminhoneiros conseguiram que o governo zerasse a carga de tributos federais sobre o diesel – com a eliminação da Cide e do PIS/Cofins – por 60 dias e também a redução de R$ 0,46 no preço do produto nas refinarias até o final de 2018, além da garantia de reajustes mensais, e não mais diários, nos preços da Petrobras, entre outras conquistas.
No entanto, é preciso deixar muito claro para a população que essa redução no preço somente chegará até as bombas dos postos se esse desconto for repassado por todos os agentes da cadeia de distribuição, a partir das refinarias. “Se os postos não receberem o produto desonerado, não têm como conceder esse desconto ao consumidor”, destaca Zeca. Ele informa que, às vésperas do feriado de 31 de maio, os postos do estado estavam recebendo carregamentos de diesel com redução média de apenas R$ 0,22 nos preços, ao invés dos R$ 0,46 prometidos, e que na gasolina o aumento havia sido de cerca de R$ 0,19. “Não podemos ser, mais uma vez, taxados, injustamente, como categoria, como os vilões dos preços, ainda que alguns postos, aproveitando-se da crise, tenham praticado preços abusivos e punidos justamente por isso.”
PROPOSTAS PERIGOSAS
Em meio à paralisação dos caminhoneiros e à consequente crise do abastecimento nacional de combustíveis, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) divulgou um estudo com propostas para aumentar a concorrência no setor e, com isso, reduzir os preços finais. O estudo propõe, entre outros pontos: permitir que produtores de etanol vendam diretamente aos postos, que distribuidoras realizem importação de produtos e a instalação de postos autosserviços (self-service); repensar a proibição de verticalização do setor de varejo de combustíveis, a substituição tributária do ICMS e o imposto de valor fixo (e não percentual).
Para o presidente do Sincopetro, essas propostas “precisam ser analisadas com muito cuidado, pois há o perigo de desorganizar ainda mais o mercado, causar o fechamento de postos, aumentar o desemprego e, ao longo do tempo, viabilizar aumento expressivo nos ganhos de agentes, com a elevação dos preços finais”.
Na sua avaliação, o momento é oportuno para a discussão do reordenamento do setor dos combustíveis, de forma a eliminar as imperfeições do mercado, e também de debater a reforma tributária nesse campo, de modo a desonerar a carga, considerada excessiva e perniciosa.