Perspectivas 2015

O que esperar de 2015? 

Com esse cenário, as vendas de combustíveis não deverão repetir em 2015 o desempenho dos últimos cinco anos, o que inclui 2014, quando superaram, de longe, o percentual de crescimento do PIB. Haverá expansão das vendas, sim, porém mais discreta.

Estes são alguns dos pontos abordados nesta entrevista pelo economista Fabio Silveira, sócio da GO Associados. Com graduação pela Universidade de São Paulo e mestrado em Grenoble (França), foi sócio-diretor da RC Consultores (2005-2012) e atuou junto ao Grupo ELF no Brasil e à Copersucar, além de acumular passagens por outras empresas.

Posto de Observação – Com a definição sobre o comando do país, avalia que haverá reaquecimento da economia brasileira no curto prazo?

Fabio Silveira – Haverá reaquecimento econômico, mas não no curto prazo. Vivemos em um período caracterizado por estagnação econômica, reduzido superávit comercial, persistente pressão inflacionária e juros elevados. Esse cenário reflete tanto os efeitos da crise econômica mundial de 2008 quanto da condução da política econômica interna.

A melhor notícia de 2015 será o aumento das exportações brasileiras e o crescimento da economia dos EUA, que deverá ter reflexos positivos nas economias latino-americanas, as quais também poderão adquirir produtos brasileiros.

Apesar disso, não deverá haver investimentos no primeiro semestre e o PIB não deve crescer mais do que 1,5% no ano. Isso porque a retomada do crescimento da economia nacional também está relacionada com o equilíbrio das contas públicas e com a expansão do superávit primário em pelo menos 2% ou 2,5% do PIB. Isso aumentaria a confiança do sistema financeiro internacional e de outros potenciais investidores, que poderiam se tornar parceiros do setor público brasileiro em obras de infraestrutura, por exemplo, numa parceria público-privada.

PO – Acredita ser este o momento para buscar crédito para investir na ampliação do posto, por exemplo, ou o mais indicado é aguardar as medidas do novo governo?

Silveira – As taxas de inflação, de 6% ao ano, e de juros, na casa dos 11%, estão em patamares estáveis e, após o resultado das eleições presidenciais, os índices da bolsa de valores subiram, enquanto que a taxa de câmbio caiu.

Assim, não haverá diferença entre novembro de 2014 e março de 2015. O revendedor pode tomar crédito hoje, desde que tenha avaliado bem o mercado em que vai atuar.

PO – A seu ver, a inflação de 2015 deverá ser menor do que a prevista para 2014? 

Silveira – Acredito que sim, pois os preços das commodities internacionais, como petróleo e alguns alimentos, estão caindo, o que deve impactar nos preços internos e, por conseqüência, na inflação.

“Os preços (dos combustíveis) não devem se elevar substancialmente no próximo ano.”

PO – Nos últimos anos, com o crescimento da frota de veículos, o desempenho do setor de combustíveis superou, em muito, o crescimento do PIB. Prevê a manutenção dessa tendência?

Silveira – Não. As vendas de combustíveis irão desacelerar seu crescimento, da mesma forma que a economia brasileira se retraiu em 2014 e continuará retraída em 2015. Os preços não devem se elevar substancialmente no próximo ano. O valor do petróleo caiu no mercado internacional e a Petrobras não pode recuperar no curto prazo tudo o que perdeu nos últimos anos, ao importar combustíveis e petróleo por um valor e vender internamente por preços mais baixos.

PO – Na sua avaliação, os preços do etanol deverão acompanhar esse movimento de alta?

Silveira – Dificilmente haverá grande alteração nos preços do etanol. A variação deve ser mais determinada pela entressafra. Na verdade, com os previsíveis aumentos dos preços da gasolina, poderá haver aumento do consumo do etanol, minimizando as perdas que o setor sofreu nos últimos anos.

“A fidelização do cliente, por meio da satisfação – e até superação – de suas expectativas, é fundamental para o sucesso.”

PO – Ao analisar o mercado de revenda de combustíveis, que ações deverão ser consideradas pelo setor empresarial para garantir maior rentabilidade ao ponto de venda?

Silveira – O problema deste e de outros setores é que precisam manter estoques altos ou relativamente altos e, por isso, têm de operar com elevado custo de capital de giro, especialmente neste momento, em que os juros estão altos. Por esse motivo, a margem é pequena e o controle dos custos operacionais torna-se essencial para manter a saúde financeira da empresa.

Além disso, por se tratar de um mercado altamente competitivo, com carga tributária elevada, a criatividade, a inovação, passa a ter um papel destacado no posto. O importante é identificar serviços e produtos com maior valor agregado que atendam às necessidades de clientes cada vez mais exigentes, e garantir a boa qualidade do atendimento. A fidelização do cliente, por meio da satisfação – e até superação – de suas expectativas, é fundamental para o sucesso. 

Os postos pequenos, com baixa galonagem e pouco espaço para oferecer outros serviços, serão cada vez mais inviáveis, especialmente nos grandes centros de consumo.