por Márcia Alves
Se o cenário econômico para o próximo ano não é dos melhores, segundo a visão de analistas, para o setor de combustíveis a perspectiva é de manutenção do crescimento acima da evolução do PIB. Esta é a expectativa de Alísio Vaz, presidente executivo do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), entidade que representa cerca de 80% do mercado distribuidor no país.
Na análise de Vaz, os últimos dois anos foram de recuperação para o setor. Em 2013, embora o PIB tenha ficado em 2,5%, as vendas de combustíveis registraram aumento de 5,7% nas filiadas ao sindicato. Neste ano, o consumo registrou alta de 6%, enquanto o PIB, segundo projeções, encerrará 2014 abaixo de 0,5%. Este ano está sendo bom para o setor. O crescimento nas vendas nos dá a sensação de que estamos descolados da economia, diz.
O melhor desempenho foi do etanol, que registrou até agosto deste ano 12% de crescimento e 22,1% em 2013, ano que marcou a retomada da demanda. A venda de gasolina, que cresceu 4,3% em 2013, obteve resultado melhor neste ano, alcançando em torno de 7% até agosto.
Já o diesel, cujo consumo subiu 4,6% em 2013, deverá crescer neste ano em torno de 3%, em virtude da redução da atividade industrial, principalmente nos segmentos de transporte e agrícola, os maiores consumidores do produto. Historicamente, há uma correlação mais próxima entre consumo de diesel e a evolução do PIB. Portanto, o crescimento um pouco acima do PIB não é nada para se festejar, mas é bem vindo dada a situação da economia, afirma Vaz.
Para economista Leonardo Costa, da Rosenberg Associados, se os ajustes nos preços dos combustíveis se concretizarem no próximo ano, o diesel terá maior consequência na economia do que a gasolina. Se o foco do governo for arrumar a casa, os impactos tendem a ser complexos, prevê.
Cenário de muitas possibilidades
Em evolução desde 2013, o consumo de etanol foi estimulado por fatores, como preço favorável, desoneração do PIS e da Cofins e aumento da oferta. Segundo Vaz, pesou também na melhoria do desempenho a redução do mercado paralelo. Com a diminuição da conhecida barriga de aluguel e da sonegação, o mercado se tornou mais rentável para os revendedores que compram de fonte segura e pagam seus impostos e que antes não conseguiam competir com os atravessadores de etanol, diz.
Mas, se o bom desempenho do etanol se manterá em 2015 ainda é uma incógnita para o presidente do Sindicom. A competitividade do etanol tem se preservado em dois ou três estados, incluindo São Paulo, mas não sabemos se no próximo ano se sustentará, diz. O retorno da cobrança da Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico (Cide) poderia impactar positivamente sobre o etanol, segundo o setor sucroalcooleiro, mas na visão de Vaz, ainda se trata apenas de uma promessa.
Se a volta da Cide será boa ou ruim, cabe ao governo avaliar. Não temos essa visão determinística, mas reconhecemos que a Cide, mais do que apenas amenizar o efeito dos aumentos, tem o importante papel de direcionar a política do governo para o setor, diz. Ainda que o imposto possa influenciar no aumento de preço da gasolina, ele destaca que a queda de preço do petróleo no mercado internacional, um fator novo, poderia reduzir a defasagem de preço. Mas são possibilidades e, por isso, não há como avaliar, diz.
Para a gasolina, especificamente, Vaz aposta no crescimento continuado das vendas pelos próximos anos, baseado no principal fator que tem impulsionado o consumo: o crescimento da frota de veículos. A própria Anfavea, entidade que representa as montadoras, prevê a recuperação da indústria automobilística a partir de 2015. Esse aumento da frota sustentará o crescimento do consumo, talvez não mais na faixa de 7% a 8%, mas ainda assim superior ao PIB, no curto prazo, prevê Vaz.
Entre as questões que desafiam a distribuição de combustíveis, o presidente do Sindicom elenca a tributária, a logística, o meio ambiente e a regulatória. Em relação a esta última, ele mencionou o caso da amostras testemunha, em que a entidade tem atuado junto ao órgão regulador para encontrar uma solução. Temos o desafio de colaborar com a agência para superar obstáculos, diz.