por Cristiane Collich Sampaio, Denise de Almeida e Márcia Alves

Não há dúvida de que o mercado de combustíveis deu um salto de qualidade nos últimos anos. Forças-tarefas e controles mais rígidos surtiram o efeito desejado ao longo do tempo.

Uma década atrás, sobretudo em virtude da adulteração, os índices de não conformidade oscilavam entre 12% e 13%. Em agosto último, boletim divulgado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) indicava não conformidade de 1,8%, considerando-se todos os tipos de produtos automotivos.

Mas, apesar dessa boa notícia e do crescimento das vendas de combustíveis nos últimos anos, o reflexo na lucratividade dos postos não foi positiva, pois a elevação dos custos foi maior que os benefícios obtidos. Gastos consideráveis com o pagamento de tributos, taxas e toda sorte de exigências mantêm o revendedor honesto sobre o fio da navalha, obrigado a trabalhar com margem estreita, esmagada pela acirrada concorrência (por vezes desleal), suficiente apenas para cobrir despesas. E o quadro financeiro pode se agravar ainda mais, por conta de passivo ambiental, descontrole contábil e da forma de tributação escolhida.

No momento, parece que uma das saídas pode estar nas atividades agregadas, como lojas e outros negócios reunidos no posto, capazes de tornar o ponto de venda mais rentável.

Na prática, o que importa no mercado não é vender mais, é vender bem.

Muitos gastos, pouco lucro

A estabilidade econômica do país melhorou o nível de renda e de consumo dos brasileiros. Mas apesar da onda de prosperidade, alguns segmentos, como o da revenda de combustíveis, não elevaram sua lucratividade. Entre os principais motivos está o peso excessivo de custos que incidem sobre o comércio de combustíveis, que reduzem a margem de lucro e prejudicam a rentabilidade do negócio. Um estudo recente do setor detectou um aumento de faturamento dos postos em 2011 da ordem de 11,5%. Mas, o mesmo estudo também apurou que a arrecadação tributária do setor no período superou essa marca, atingindo 11,8%. Além de a atividade ser altamente regulada e fiscalizada, ainda está sujeita a muitas obrigações.

Na cidade de São Paulo, por exemplo, as obrigações vão desde as laborais, como curso de brigada e Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) e Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), até as específicas de segurança, como Equipe de Pronto Atendimento Ambiental (EPAE) e alvarás de funcionamento dos equipamentos mais as respectivas taxas de inspeção. No âmbito estadual, os maiores custos estão relacionados à adequação à legislação ambiental, que pode requerer desde a troca de tanques e equipamentos até a reforma do posto. Mas se for constatada a contaminação de solo, daí então os gastos podem ir às alturas. (veja quadro)

Em termos de obrigações federais a lista é vasta. Da parte da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) as perdas vêm em forma de multas, que podem variar R$ 5 mil a R$ 5 milhões, por desconformidade de produto, falta de placas de avisos ou do Livro de Movimentação de Combustíveis. Também gera multa, de no mínimo R$ 5 mil, a falta de adequação ao Sistema Público de Escrituração Digital (Sped), que integra as administrações tributárias nas esferas federal, estadual e municipal. Qualquer documento eletrônico que deixe de ser encaminhado mensalmente ao fisco ou que seja enviado com erro gera a penalidade.

Gastos dobrados

Os custos que envolvem a remediação de solo e água contaminados já são altos, mas podem dobrar de tamanho se o serviço prestado por empresas de consultoria ambiental não for adequado. Nesse aspecto, a arquiteta Sandra Huertas, profissional especializada em meio ambiente que presta serviços para o Sincopetro, sindicato dos revendedores de São Paulo, recomenda ao revendedor para que fique atento à qualificação da empresa responsável pela remediação de solo, como também pelo cumprimento das exigências nos prazos. Ela conta que tem recebido no sindicato muitos postos que concluíram a remediação, mas que terão de refazer o cronograma de monitoramento para encerramento de caso, por falta de cumprimento dos prazos.

O cronograma estabelece quatro etapas de monitoramento, conhecidas como “campanhas”, nos períodos de seca e de cheia, entre março e abril e entre setembro e outubro, durante 24 meses, por um custo que varia entre R$ 8 mil e R$ 12 mil, de acordo com a quantidade de poços. Se alguma das campanhas for realizada fora do período determinado, o revendedor será obrigado a reiniciar o cronograma, atrasando a liberação da área como reabilitada e gerando novos custos. Foi o que aconteceu com um revendedor, segundo Sandra, que pensou ter encerrado a fase de monitoramento, mas descobriu, depois de receber comunicado do órgão ambiental, que a empresa de consultoria havia pulado uma das campanhas.

Fazendo as contas

Poucos revendedores, como Plínio Adalberto Barbosa, vão a fundo na contabilidade do posto para identificar suas receitas e despesas. Na atividade há 19 anos e dono de um posto na capital paulista há 15 anos, ele mantém na ponta do lápis todos os custos do estabelecimento, que, por suas contas, consomem quase 73% de toda a receita.

Barbosa tem o controle sobre custos que vão muito além dos impostos, tributos e taxas. Ele chama a atenção para outros gastos e despesas diretas e indiretas, que pesam tanto quanto os demais, mas que nem sempre são percebidos ou lançados na contabilidade do posto. Entre esses, os principais são manutenção de bombas, taxas de cartão de crédito, coleta e destinação de resíduos, softwares de gestão, além de outros específicos, como manutenção visual do posto e taxa de plano de marketing da distribuidora.

“A maioria dos revendedores não faz as contas e não sabe o quanto está perdendo”, afirma. Ele não apenas sabe como tem consciência de que não pode lançar mão da única solução para aumentar a receita, que seria o aumento da margem de lucro. “Sonho com isso, mas sei que se aumentar não vendo”, diz. Sua teoria é a de que o equilíbrio entre receita e despesa não está na quantidade, mas na qualidade. “Quanto maior o volume de vendas, maior serão os gastos com luz, água, funcionários etc. É uma ilusão. Se o revendedor fizer as contas, perceberá que é melhor vender menos, mas vender bem”, diz.

Muitas exigências

No quadro abaixo, algumas das principais exigências de órgãos do governo para os postos de São de Paulo e seus custos médios.

Descritivo

Prefeitura

Corpo de Bombeiros

Cetesb

Minist. Trabalho

Custo (médio)

ISS

Taxa mensal estimada de acordo com a quantidade de equipamentos do posto

X

-

IPTU

Calculado de acordo com o tamanho do imóvel

X

-

EPAE

Equipe de Pronto Atendimento Ambiental (anual)

X

X

 R$ 400,00 a

R$ 600,00

Vistoria do Corpo de Bombeiros

(válido de 2 a 3 anos)

X

X

X

R$ 600,00 a R$ 800,00

Curso de Brigada

X

X

R$ 400,00 a R$ 600,00

 PCMSO/PPRA

Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional e Programa de Prevenção de Riscos Ambientais

X

R$ 2.000,00

Laudo de Compressor

Taxa anual

X

R$ 300,00 a R$ 500,00

Atestado de pára-raios e instalações elétricas

Vistoria das instalações elétricas (anual)

X

R$ 800,00

Alvará de funcionamento dos equipamentos (exigido pela Prefeitura Municipal de São Paulo)

Expedido pelo Contru, com revalidação anual. Valor por equipamento e valor da taxa.

X

R$ 54,33 + R$ 543,40

Honorários e atestado de responsabilidade técnica (anual)

X

R$ 2.200,00 a R$ 3.500,00

Taxa fiscalização do Ipem

Por bico

(valor anual)

X

R$ 132,50

Teste de estanqueidade

Valor por compartimento (anual), para tanque de parede simples.

(Para tanques de parede dupla, a PMSP exige o teste a cada 3 anos e a Cetesb a cada 5 anos)

X

X

R$ 350,00 a R$ 500,00

TFE

(apenas para a cidade de São Paulo)

Taxa de Fiscalização do Estabelecimento. Valor anual conforme o número de funcionários.

X

R$ 760,63

TFA

(apenas para a cidade de São Paulo)

Taxa de Fiscalização de Anúncio (valor médio anual por anúncio)

X

R$ 250,30

 CADRI

Certificado de Destinação de Resíduos Industriais (Valor mensal do contrato com a empresa coletora de resíduos - Cadri coletivo)

X

R$ 350,00

Revalidação de LO

Exigida a cada 5 anos, conforme a área do posto

X

R$ 1.000,00 a   R$ 2.000,00

Honorários técnicos com elaboração de PMO e vistoria nas instalações.

X

R$ 2.200,00

Taxa do Ibama (TCFA)

Conforme o porte e o potencial poluidor do posto (taxa trimestral)

X

R$ 225,00 a

R$ 2.250,00

Custos ambientais em caso de contaminação do solo – para obtenção de LP/LI

Custos ambientais

Investigação Confirmatória (laudo de passivo)

X

R$ 15.000,00 a

R$ 20.000,00

Investigação detalhada e Plano de Intervenção

X

R$ 25.000 a

R$ 65.000

Remediação

X

R$ 150.000,00 a R$ 300.000,00

Monitoramento Encerramento

X

R$ 40.000,00 a

R$ 60.000,00

Fontes: Departamentos: Jurídico, de Meio Ambiente e de Atendimento ao Associado do Sincopetro; arquiteta Sandra Huertas