por Denise de Almeida
A participação de maridos e esposas nos assuntos patrimoniais e de negócios das famílias empresárias é tema controverso. Muitas famílias afirmam que é melhor não envolvê-los, acreditando que, quanto menos souberem, menores serão os problemas futuros.
No entanto, para a administradora de empresas e consultora na área de transição de gerações, Ana Rita Shlatter, o caminho é justamente o inverso. As pessoas tendem a confundir o interesse do parceiro questionando se ele é financeiro ou afetivo, revela. E mesmo depois de superadas as inseguranças e confirmadas as boas intenções da relação, segundo ela, outras saias-justas podem entrar em cena. Quase todas provocadas pela ausência de diálogo.
Regime de casamento, separação, morte são temas que, apesar de parecerem cruéis, devem ser conversados e combinados. As finanças cotidianas da família, a adequação do padrão de vida do casal aos seus rendimentos e a construção de projetos patrimoniais a dois são importante pilar da relação conjugal, assim como a educação dos filhos. Estar ciente de informações patrimoniais, implicações e cenário que esperam seus filhos como herdeiros da empresa da família é fundamental no processo de preparo da nova geração, diz Ana Rita.
Ela lembra ainda que, pelo novo Código Civil, o cônjuge passou a ser herdeiro, inclusive no regime de separação total de bens. Assim, ainda que o papel do marido ou da esposa não seja o mesmo dos sócios, seu preparo e envolvimento se tornam ainda mais necessários. Existe um papel a cumprir e a continuidade da empresa familiar, sem sombra de dúvida, também passa por planejar cuidadosamente esse envolvimento, enfatiza a consultora.
E quando são sócios...
Para Alexis Novellino, consultor especialista em governança de empresas familiares, a situação ainda é mais delicada quando, além dos laços afetivos, há também laços societários. Ao mesmo tempo em que essa intimidade natural pode ser um aspecto positivo para a empresa, pode também acabar atrapalhando e as relações pessoais podem se confundir com as profissionais, explica.
Novellino destaca que práticas comuns como discutir na frente dos funcionários como se discutiria em casa, por exemplo, faz com que a credibilidade dos familiares fique abalada. Portanto, para evitar conflitos que confundam as esferas família e empresa, o consultor aconselha a desenvolver um distanciamento provisório em situações profissionais.