por Cristiane Collich Sampaio

Diesel de cana já é mais que uma promessa

Desde o dia 5 de dezembro 80 ônibus da Viação Santa Brígida, movidos com uma mistura de 90% de diesel S 50 (oficial, com 5% de biodiesel) e 10% diesel de cana-de-açúcar, estão em circulação na capital paulista, integrando a chamada Ecofrota.

A Mercedes-Benz – fabricante de 20 desses coletivos e responsável por testes que se desenvolveram durante um ano, sem que houvesse necessidade de modificações nos motores – prevê que nos próximos meses mais de 440 caminhões de sua marca passem a integrar as frotas de outras empresas de transporte coletivo que atuam na cidade e em outros municípios do estado. A iniciativa envolveu a Mercedes-Benz, Amyris Brasil (que produz o combustível), Petrobras Distribuidora e SPTrans, e faz parte do Plano de Controle de Poluição Veicular (PCPV), que prevê que toda a frota da capital, de 15 mil ônibus, opere com combustíveis menos poluentes até 2018. A Ecofrota de São Paulo também é composta por 1,2 mil ônibus movidos com 20% de biodiesel, 50 abastecidos com etanol e 200 trólebus ecológicos, de acordo com a SPtrans.

A montadora, a BR Distribuidora e a Amyris também participam dos testes que estão sendo feitos na capital fluminense. O intuito é garantir uma frota de coletivos cada vez menos poluentes, também em função da imagem do país no exterior, pois a cidade sediará grandes eventos internacionais nos próximos anos.

O diesel de cana é gerado em processo semelhante ao da produção do etanol: bactérias especialmente dedicadas a esse fim transformam o açúcar num óleo combustível que, após filtragem e tratamento, dá origem a esse diesel vegetal.

Interesse internacional

A Amyris Brasil – filial da multinacional californiana de biotecnologia Amyris, que tem a petrolífera francesa Total como uma de suas principais acionistas –, tem planos para expandir a produção, em parceria com usinas. Testes realizados pela Mercedes-Benz com ônibus alimentados com 100% de diesel de cana indicam redução das emissões poluentes em até 90%. Segundo informações, o produto é comparável ao melhor diesel de petróleo existente, além de ter número de cetano maior e bom desempenho em temperaturas frias.

Hoje sua adição do diesel oficial se restringe a 10% por causa da indisponibilidade do produto em grandes volumes e também de seu preço. Os envolvidos acreditam que com o aumento da produção e do consumo os custos devam cair ao longo do tempo.

Sorgo poderá reforçar oferta de etanol

Produtores de etanol apostam no sorgo para garantir a oferta do produto na entressafra da cana-de-açúcar. Em dezembro, grandes grupos, como Raízen, São Martinho, ETH e Bunge, plantaram sorgo sacarídeo (ou sacarino) e, com a colheita prevista para ocorrer entre março e abril, esperam manter a atividade das usinas no período da entressafra da cana e complementar a oferta de etanol ao mercado.

O sorgo é da mesma família da cana, uma gramínea, e, apesar de hoje apresentar produtividade e teor de açúcar muito inferiores aos oferecidos por sua parente, tem custo de produção mais baixo. Além disso, são necessários pequenos ajustes na área agrícola e nenhuma adaptação na industrial, o que incentivou as empresas a investir no produto, ainda que experimentalmente.

Para o diretor do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), Luis Antonio Dias Paes, o sorgo sacarídeo poderá se tornar um nicho interessante de produção no início e final da safra de cana.

Petrobras sela parcerias com MAN e Peugeot Citroën

A maior severidade das legislações com relação às emissões veiculares está exigindo aproximação cada vez maior de fabricantes de motores e produtores de combustíveis. Isso fica claro nas recentes parcerias formalizadas em dezembro pela Petrobras com a MAN Latin America, no desenvolvimento tecnológico de combustíveis e motores para veículos pesados, e com a PSA Peugeot Citroën, no campo dos motores ciclo Otto.

Entre os objetivos do acordo com a MAN está criação de combustíveis e motores capazes de atender às demandas de uma mobilidade sustentável, sendo mais eficientes e, como resultado principal, com menor emissão de poluentes.

Com a entrada de novas tecnologias automotivas para o segmento de veículos pesados no país, em especial a redução dos teores de enxofre do diesel (hoje de 50 ppm nas regiões metropolitanas e em 2013 de 10 ppm) e o uso de sistema de pós-tratamento dos gases de escapamento, e sendo o combustível nacional oferecido com diferentes teores de enxofre, a parceria permitirá à Petrobras estudar o desempenho de seus produtos diante dessas novas tecnologias.

No caso dos veículos leves, o trabalho conjunto com a PSA Peugeot Citroën deve preparar o cenário para a chegada da injeção direta de gasolina e nova redução das emissões de CO2. De acordo com nota da montadora, com a obrigatoriedade da aditivação de toda a gasolina nacional em 2014, junto com a redução de enxofre para 50 ppm, a parceria acontece em “momento oportuno”. Além disso, ainda que essas tecnologias já sejam empregadas em outras partes do mundo, não se pode esquecer que a gasolina brasileira é única, em virtude de seu elevado teor de etanol, e, por isso, os resultados desses estudos serão muito importantes para ambas as empresas.