por Cristiane Collich Sampaio

A retomada do crescimento do setor sucroalcooleiro irá depender, ao menos em boa parte, de ações governamentais. Isso ficou patente durante entrevista coletiva da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), realizada no dia 13 de dezembro, em São Paulo (SP).

“Tivemos uma safra desastrosa, com queda de produtividade em praticamente todas as regiões produtoras e o menor índice dos últimos 24 anos.”, declarou o gerente de produtos do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), Luiz Antonio Dias Paes. Segundo ele, na safra 2011-2012 vários fatores contribuíram para o baixo desempenho, entre os quais o clima pouco favorável nos últimos três anos, especialmente em 2011, pragas e difusão da cana em solos pouco adequados.

E ainda que alguns dos efeitos ainda perdurem, a expectativa é de que na próxima safra haja expansão da área plantada e clima mais favorável, embora somente em março do próximo ano a entidade preveja a divulgação de informações consistentes a esse respeito.

Ao lado desses reveses, segundo informou o presidente da Unica, Marcos Jank, o setor sofreu com a elevação dos custos de produção, que se refletiu no aumento dos preços de custo do etanol hidratado – hoje estimado entre R$ 1,15 e R$ 1,20 por litro, sem impostos. Como consequência, houve elevação no preço de bomba e queda do consumo. Além disso, a redução do valor da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), incidente sobre a gasolina, foi reduzida, para evitar aumento do preço desse combustível, o que contribuiu para aumentar o desequilíbrio da paridade dos preços do etanol e da gasolina ao consumidor final.

Jank salientou que quando a Cide foi criada, há 10 anos, representava 14% do preço da gasolina na bomba e hoje equivale a 2,7%. “A carga tributária sobre esse produto, que já foi de 47%, hoje é de 35%, bastante próxima da do etanol, ou igual, se levarmos em conta o rendimento por litro dos dois produtos”.

Mais etanol

Diante desse cenário, a Unica criou o Movimento Mais Etanol, lançado em 6 de dezembro, em Brasília (DF), na presença de parlamentares e de membros do executivo e lideranças empresariais. Com isso, a entidade visa ampliar o debate para a adoção de políticas públicas essenciais para que o setor retome o crescimento e o etanol hidratado volte a ser competitivo no mercado interno.

Na entrevista, o presidente da entidade declarou que para manter a posição do Brasil no mercado global de etanol e de açúcar (hoje abastece 50% deste último), que está em expansão, e suprir as necessidades internas crescentes, até 2020 será preciso dobrar a produção de cana e investir em produtividade e novas tecnologias.

Segundo ele, o setor tem de buscar por políticas públicas satisfatórias, como a desoneração tributária (PIS/Cofins e ICMS), reavaliação da Cide sobre a gasolina, linhas de financiamento, incentivos à produção e ao uso da bioeletricidade e transparência na formação dos preços da gasolina.

O Movimento Mais Etanol deverá ganhar visibilidade já nas primeiras semanas de 2012.