por Márcia Alves

A notícia amplamente divulgada pela mídia, em novembro, de que os refrigerantes dietéticos contêm benzeno, provocou alarde na população a respeito da nocividade dessa substância cancerígena. De com acordo sua assessoria, a Proteste detectou em 2009 a presença nas bebidas de ácido benzoico e ascórbico, este último mais conhecido como vitamina C. Juntas, estas duas substâncias, sob certas condições de exposição à luz e ao calor, podem reagir e formar o benzeno.

Como não existe um limite fixado pela Anvisa para refrigerantes, a Proteste utilizou o parâmetro de água potável, que é de 5 micrograma de benzeno por litro. O limite permitido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para a água potável é de 10 ppb (partes por bilhão). Nos Estados Unidos esse limite é de 5 ppb, e na União Europeia é de 1 ppb.

De acordo com a Proteste, os fabricantes de refrigerantes informaram que a formação do benzeno decorre de um processo químico geralmente desencadeado nos refrigerantes light/diet, já que a presença do açúcar inibe a formação da substância. Disseram ainda que “a eventual identificação de traços mínimos de benzeno em determinado produto pode ocorrer por razões alheias, como em decorrência da quantidade de benzeno pré-existente na água”.

Por fim, a entidade divulgou que as principais marcas de refrigerantes brasileiras se comprometeram a reduzir a quantidade de benzeno nas bebidas cítricas e light, após um termo de ajustamento de conduta (TAC) acertado com o Ministério Público Federal.

O risco da gasolina adulterada

Embora o episódio dos refrigerantes tenha colocado o benzeno em evidência, a discussão sobre essa substância é antiga em todo o mundo.  Em 1920, cientistas descobriram que o benzeno poderia induzir ao câncer em humanos. Desde então, descobriu-se que o benzeno está mais presente na vida cotidiana do que se possa imaginar. Para se ter uma ideia, além da água, o benzeno também está na atmosfera, no ar condicionado de veículos, na fumaça de cigarros e na gasolina.

No Brasil, o benzeno era utilizado como aditivo da gasolina até 1970, quando foi proibido devido a sua alta toxicidade. Atualmente, a gasolina ainda contém benzeno, conforme as especificações regulamentadas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em 2001, mas em níveis menores. Na gasolina Tipo C comum, o benzeno corresponde a 1,0%vol, mesmo teor vigente em países da Europa desde 2000.

Porém, testes realizados na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP na cidade de São Paulo, encontraram benzeno na atmosfera muito acima dos limites permitidos, devido ao grande número de veículos automotores, à adulteração de combustíveis e à presença de fumantes. "O combustível adulterado chega a apresentar até 8% de benzeno, que é liberado no ar pela queima e chega ao organismo pelas vias aéreas e pela pele", alerta a professora Sandra Farsky, coordenadora da pesquisa.

Em 2005, no auge da adulteração de combustíveis a Câmara dos Deputados divulgou um estudo, realizado pela consultora legislativa da área de meio ambiente, Ilidia da A. G. Martins Juras, intitulado “Impacto à saúde e ao meio ambiente do aumento irregular de solventes na gasolina”. O estudo revelou que a gasolina adulterada contém benzeno, tolueno, xileno, hexano, ciclohexano e várias outras substâncias nocivas.

Consta no estudo uma informação da Copesul sobre a ficha de segurança de produto químico, segundo a qual não gera efeitos para o ser humano a exposição a concentrações de 25 ppm (partes por milhão) de benzeno. Já as concentrações entre 50 e 150 ppm, causam dor de cabeça e cansaço e as acima de 20 mil ppm podem levar à morte em até dez minutos.

Comer ou beber alimentos contendo altos níveis de benzeno pode causar vômitos, irritação do estômago, tonturas, sonolência, convulsões e morte. Os principais efeitos do benzeno, entretanto, são causados pela exposição prolongada, que pode provocar anemia, redução do sistema imunológico, leucemia e outros tipos de cânceres.