por Denise de Almeida



 


A redução de 25% para 20% de etanol anidro na gasolina e, sobretudo, o sobe-e-desce do preço do etanol hidratado por ocasião da entressafra da cana-de-açúcar foram responsáveis pelo aumento nas conversões de veículos movidos aos dois combustíveis para o gás natural veicular (GNV), de acordo com a ABgnv (Associação Brasileira de Gás Natural Veicular).


Segundo Antonio José Teixeira Mendes, diretor executivo da entidade, o registro ainda está longe dos números de 2007, antes do início da crise do combustível, e ainda há cautela na decisão do consumidor, mas, nos últimos meses, as conversões vêm acrescendo acentuadamente. “O aumento do preço do álcool em função do mercado internacional do açúcar promoveu a venda de outros combustíveis, e nesse movimento levou os consumidores a considerar o uso do GNV como alternativa financeira”, disse.


O executivo revela que, na verdade, o GNV não deixou de ser opção para veículos com motores de volume grande, “especialmente para os que trabalham carregados, com lotação máxima, onde o etanol sempre foi um combustível menos indicado pelo consumo exagerado”, explicou. Mas ele estranha a opção pela diminuição do etanol anidro na gasolina, em detrimento ao incentivo do uso do GNV, mais econômico e benéfico para o meio ambiente, segundo estudos da entidade, que mostram que veículos flex podem economizar até 40% de combustível usando o GNV com sistemas de quinta geração, combustível gasoso injetado a pressão positiva no motor.


Apesar do seu enorme potencial, a associação reclama também da falta de um marco regulatório amplo para o combustível, tanto para padronização da frota como para balizar os investimentos no setor. “Desde a metade da década de 90, quando o gestor público se preocupou em dar uma forma legal para conversão da frota brasileira para o uso do GNV, o que vem acontecendo é uma crescente desobediência civil”, afirmou Mendes. “Desta forma, o fator econômico terminou sendo afetado e os investidores, cujo capital total geral ultrapassa os R$ 6 bilhões, passaram a conviver com riscos e regras casuais”.


Outra questão hoje muito debatida é a falta de ação fiscalizatória do estado. Segundo ele, é possível licenciar um veículo totalmente irregular e isto deixa clara a falta de uma política ou uma regulação para este segmento de mercado.


A ausência de regras pode ser sentida na diminuição do tamanho da frota de veículos movidos a GNV. “Acreditamos que, nos últimos dois anos, ela deve ter encolhido 30% em relação aos 1,2 milhão do início da crise e dos ataques diretos do Governo Federal ao GNV em 2007”, lamenta.


Mendes ressalta, entretanto, que, para o revendedor, vender GNV continua sendo um bom negócio. “Houve um rodízio de postos, alguns fecharam sua portas e surgiram novos postos em todo o país”, mas, em sua opinião, para o mercado do GNV deslanchar basta que o consumidor e os empresários passem a confiar no fornecimento do produto. “O consumidor precisa ter certeza de que não haverá o desabastecimento de GNV, que ele não ficará na mão, que ele pode comprar veículos a GNV e que terá como abastecê-los, pelo menos pelo prazo que possa assumir contratos. Então o GNV deixa de ser um risco e volta a ser um combustível confiável”, resume.