por Márcia Alves


Os casos de adulteração de etanol por metanol levantaram inúmeras indagações a respeito dos riscos dessa substância. A revista Posto de Observação ouviu especialistas em toxicologia, em química e em motores para esclarecer o assunto.


Origem do metanol - A qualidade do metanol e a composição das misturas  utilizadas na adulteração do etanol são desconhecidas Normalmente, esse produto é obtido a partir da destilação da madeira, aquecida a altas temperaturas (daí vem a denominação "álcool da madeira"). Atualmente,  o metanol é produzido, principalmente, a partir da hidrogenação catalítica (reação química resultante da adição de hidrogênio em uma molécula) do monóxido de carbono, por meio de fontes diversas (gás natural, carvão etc.), em temperaturas elevadas e pressões moderadas.


Quem produz - A empresa Metanor/Cosenor, do pólo petroquímico de Camaçari, na Bahia, e a GPC Química, no Rio de Janeiro, são as principais produtoras de metanol no Brasil, com um volume de 300 mil toneladas em 2008. Atualmente, a demanda no país é superior à capacidade instalada, daí porque o Brasil importa metanol de produtores internacionais.



Riscos à saúde


No ser humano, o etanol age como um depressor moderado do sistema nervoso central. Inalado ou ingerido acidentalmente, causa moderada depressão do sistema nervoso central (SNC), com sintomas como náuseas, dores de cabeça, vômitos, vertigens, falta de coordenação motora e um estado de aparente de embriaguez.


Após um período de latência sem sintomatologia (geralmente entre 8h e 24 h, mas que pode se prorrogar por até dois dias), podem se desenvolver sintomas visuais como visão embaçada, edema da retina, dor ocular, fotofobia, dupla visão e nos casos mais severos, cegueira. Dores abdominais, dores musculares e dificuldades respiratórias também foram observadas em exposições mais severas.


Podem ocorrer, ainda, coma e óbito, normalmente devido à parada respiratória. Dependendo da severidade da intoxicação e da rapidez do pronto atendimento médico, os sobreviventes podem recuperar completamente a visão ou perde-la permanente.  


No caso de intoxicação crônica, devido às exposições ocupacionais por um longo período, estudos detectaram que os efeitos podem ser similares aos da exposição aguda. O contato repetido e prolongado com a pele pode levar à dermatite (pele avermelhada, desidratada e com rachaduras).  


Por ser mais volátil, o metanol queima mais facilmente, mas sua chama não pode ser detectada à primeira vista, porque é invisível. O metanol  possui, ainda, um odor mais suave e distinto do etanol combustível. Dependendo do grau de impurezas do metanol no combustível adulterado, o odor dos gases de queima, que exala pelo escapamento do veículo, pode conter uma concentração adicional de aldeídos, capaz de provocar a irritação nos olhos e, disperso na atmosfera, se tornar um agente cancerígeno.


Como agir em caso de contaminação? No Brasil, a Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Renaciat), coordenada pela Anvisa, oferece atendimento em 36 unidades. Os casos podem ser encaminhados pelo Disque-Intoxicação (número 0800-722-6001), que também esclarece a população e auxilia os profissionais de saúde a prestar os primeiros socorros e a prescrever o tratamento adequado para cada tipo de substância tóxica.


 



Danos ao meio ambiente


O metanol é solúvel em água, logo pode contaminar esgotos, rios, córregos e outras correntes de água. Em águas subterrâneas, sua biodegrabilidade poderá ocorrer entre um e 10 dias. No ar, o metanol se degrada  fotoquimicamente (os poluentes, provenientes da queima ou evaporação do combustível se dispersam). Os resíduos são removidos da atmosfera pelas chuvas. Além disso, também há o impacto ambiental, já que para se produzir 200 litros de metanol são necessárias duas toneladas de madeira.


 



Danos ao veículo


O metanol tem sido utilizado para abastecer veículos em competições, como os da Fórmula Indy, por causa do seu maior poder antidetonante, que confere maior octanagem e potência ao motor. Entretanto, em veículos comuns, que não têm o motor ajustado para receber metanol, o efeito é contrário. A primeira conseqüência é o maior consumo de combustível, já que a energia que resulta da queima é menor do que a da gasolina e a do etanol.


O metanol também causa danos ao motor, provocando o conhecido efeito de “bater o pino” e corrói as partes “molhadas”, como bomba de combustível e mangueira, e os plásticos e metais.


Os veículos abastecidos com etanol adulterado por metanol também sofrem danos no sistema de injeção eletrônica, por causa dos resíduos gerados pelas impurezas do produto, além de ter dificuldades para dar partida a frio.


 


Fontes: Alice A. da Matta Chasin, doutora em Toxicologia, professora de Toxicologia das Faculdades Oswaldo Cruz e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia (SBTox); Oswaldo Maccarone Filho, professor do curso de Graduação de Engenharia Química da Faculdade Oswaldo Cruz e Consultor da Consulting Engenharia, Projetos, Processos e Qualidade; Fábio Ferreira, engenheiro, diretor do Comitê de Veículos Leves da SAE.