por Márcia Alves




Nunca o comércio de combustíveis interessou tanto às grandes redes de supermercados como atualmente. As líderes do setor têm planos ambiciosos de expandir sua atuação no segmento em 2009, inclusive com a abertura de postos de rua, aqueles que funcionam fora do estacionamento das lojas. Juntas, as maiores marcas, que incluem Extra, Carrefour, Makro, e outras menores e regionalizadas, como Tenda, Assaí e Davó, poderão atingir cerca de 250 postos em operação. O número não representa sequer 1% do total de postos do país. Entretanto, as redes varejistas teriam capacidade suficiente para dominar a revenda de combustíveis, caso resolvessem abrir um posto em cada uma das mais de 74 mil lojas que possuem no país. Obviamente, seria impossível atingir esse patamar até por uma questão de demanda de consumo. Mas, esse é o desejo de ao menos uma líder do ramo atacadista. A rede Makro já anunciou que pretende instalar um posto em cada uma das suas 59 lojas.


Na época em que os supermercados iniciaram no comércio de combustíveis, alegavam que o objetivo era agregar mais serviços aos clientes. Porém, a julgar pelo aumento acelerado do número de postos operados pelas redes varejistas, conclui-se que o negócio de combustíveis é lucrativo para esse setor. Na rede Carrefour, por exemplo, que detém 60 postos, a venda de combustíveis representa 10% do faturamento de não-alimentos. Outro indício dessa boa rentabilidade é a abertura de postos de ruas. O Grupo Pão de Açúcar, dono da marca Extra, com 71 postos em operação, revelou que pretende inaugurar mais 20 postos em 2009, dos quais 17 na rua, e que, para tanto, analisa adquirir postos independentes.


Oportunidades


Embora os supermercados não disponham mais da vantagem tributária de poder abater a diferença de crédito de ICMS dos combustíveis em outros produtos vendidos, ainda sustentam preços menores que os postos tradicionais. Por conta do poder de negociação e do número reduzido de funcionários, redes como a Makro conseguem oferecer combustíveis a preços 10% abaixo do praticado pela concorrência. A força da marca também favorece o segmento, que alega ser mais bem organizado e fiscalizado do que os postos tradicionais, e que, portanto, estaria menos sujeito à prática de adulteração.


Mas a concorrência feroz dos supermercadistas com os postos não se dá apenas no comércio de combustíveis. As lojas de conveniência, segmento que nasceu e se desenvolveu dentro dos postos, têm atraído cada vez mais pesos-pesados das redes varejistas. Para ampliar a penetração da marca, os supermercados tencionam instalar uma loja de conveniência ou mini-mercado em cada posto de rua. Para Renata Lima, consultora da Troiano Consultoria de Marca, a estratégia é inserir e fixar a marca das redes em uma área anteriormente dominada pela revenda.


O consultor da Gouvêa de Souza & MD, Flávio Franceschetti, não acredita que a concorrência das gigantes do varejo possa decretar o fim das lojas de conveniência nos postos. Para ele, o novo contexto competitivo deve ser visto por outro ângulo, o da oportunidade. “Apenas 15% dos postos possuem loja de conveniência, portanto, se quisermos nos igualar pelo menos a Argentina, que tem índice de 40%, teremos algo como 8 mil lojas para inaugurar nos próximos anos”, disse. “São oportunidades para todos que atuam nesse ‘jovem’ canal”, acrescentou.