por Márcia Alves


 


Motivos não faltam ao paulistano para ir ao Teatro Municipal. Se não for para apreciar sua majestosa arquitetura, externamente renascentista e internamente art noveau e barroco, que seja por sua refinada programação, cuja temporada deste ano, uma das mais ricas, contempla de óperas a espetáculos de dança, sem contar os tradicionais concertos. Mas, se tudo isso não bastar, ainda há outro atrativo e tanto: o preço dos ingressos. Onde mais se poderia assistir a inédita montagem de Madame Butterfly por R$ 20,00 ou R$ 40,00? Ou, ainda, o Balé da Cidade de São Paulo, uma das companhias de dança contemporânea mais importantes do país, por apenas R$ 10,00 ou R$ 20,00?


 


Tornar o Municipal mais acessível é um projeto do diretor artístico, o maestro Jamil Maluf. Desde que ele assumiu, em 2005, os preços baixaram, resultando num público anual de 180 mil pessoas. Ele explica que a proposta foi tornar os valores das entradas semelhantes aos de teatro e cinema. Outra meta do diretor é devolver ao teatro a sua vocação original: a de uma casa dedicada principalmente a espetáculos líricos e de dança. Não por acaso, a programação deste ano inclui oito óperas, das quais cinco são produções inéditas.


 


Madame Butterfly, encenada em comemoração ao centenário da imigração japonesa, tem cenários e figurinos da artista plástica Tomie Ohtake. Em agosto, será a vez da ópera Ariadne em Naxos, de Richard Strauss, que discute a essência da arte com melodias compostas para vozes femininas. Em setembro, Colombo, de Antônio Carlos Gomes, narra a viagem de descoberta da América. As óperas Amelia al Ballo e Le Villi, de Gian Carlo Menotti e de Giacomo Puccini, serão apresentadas em conjunto em outubro. E, finalmente, para encerrar a temporada, em novembro, o Municipal resgata o espetáculo Sansão e Dalila, inspirado no Livro dos Juízes, da Bíblia.


 


Quem gosta de dança não pode perder a apresentação comemorativa dos 40 anos do Balé da Cidade de São Paulo, com programação até dezembro, quando haverá a estréia de O Lago dos Cisnes. A música de Tchaikovsky será executada ao vivo pela Orquestra Experimental de Repertório, sob o comando do maestro Maluf. Para saber mais sobre o Teatro Municipal ou se informar sobre a programação, acesse o site: www.teatromunicipal.sp.gov.br.


 



Marco cultural de São Paulo


Aberto ao público no dia 12 de setembro de 1911, o Teatro Municipal de São Paulo começou a ser construído em 1903. Imponente e rebuscado, o teatro foi erguido para contentar os parâmetros europeus de cultura da então emergente aristocracia cafeeira. Projetado por Cláudio Rossi e desenhado por Domiziano Rossi, o Municipal foi inaugurado com a apresentação da ópera Hamlet, de Ambroise Thomas, para uma multidão de 20 mil pessoas que se amontoavam na Praça Ramos de Azevedo, no centro de São Paulo. Naquela época, a cidade contava com uma frota de 300 automóveis. Segundo o pesquisador Márcio Sgressia, na noite da inauguração a capital teve o seu primeiro grande congestionamento. Cerca de 100 automóveis e mais carros puxados por cavalos tomaram as vias próximas ao teatro.


 


A partir de sua inauguração, o teatro ocupou lugar de destaque no cenário cultural da cidade. Centralizou inúmeras manifestações, entre elas a Semana de Arte Moderna (1922), e as apresentações de artistas famosos como Nijinski, Isadora Duncan, Victorio de Sica, Vivian Leigh, Bidu Saião, Toscanini, Maria Callas, Caruso, Miles Davis e muitos outros. Ao longo dos anos, também passou por mudanças, ganhando novos implementos técnicos na caixa cênica e adaptações arquitetônicas, nos anos 50 e final dos 80.