A qualidade dos combustíveis no país é a melhor desde 2001, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Das 16 079 amostras de combustíveis analisadas no mês de maio em todo o país, a média de não conformidade da gasolina chegou 3,9%, do álcool a 3,3% e do diesel a 3%. Esse resultado, a superintende de Qualidade dos Produtos da ANP, Maria Antonieta Andrade de Souza, credita à expansão do programa de Monitoramento da Qualidade dos Combustíveis, que passou a englobar as regiões Norte e Nordeste do país. “Antes havia como que uma ‘linha de Tordesilhas’, do Maranhão ao Rio Grande do Sul, concentrada no Leste, mas agora o programa está implantado em todos os estados”, afirma. Atualmente, a agência conta com o auxílio de 23 instituições na análise diária de amostras de combustíveis, as quais fornecem um mapa nacional da qualidade dos produtos.
Embora o índice de não conformidade do diesel tenha caído nos últimos dois meses de 4% para 3%, conforme o monitoramento realizado pela ANP, chama a atenção a ocorrência, ainda que localizada, de um novo tipo de adulteração. Em áreas rurais do Paraná, Minas Gerais e de Mato Grosso foi detectada a mistura de óleo vegetal – o mesmo utilizado na alimentação – ao diesel. Diferentemente do biodiesel, no qual o óleo vegetal passa por um processo de purificação pela transesterificação com etanol ou metanol, essa adição do óleo vegetal in natura ao diesel não queima integralmente nos motores, gerando a emissão de um elemento cancerígeno, que é a aproleina.
Para Maria Antonieta, cabe aos órgãos ambientais intervir nessa questão. Entretanto, a agência está estudando a divulgação de um alerta geral na imprensa sobre o assunto, pois considera que “a imagem do biodiesel não pode ser prejudicada”.
Menos poluição
A ANP também tem desenvolvido em conjunto com o setor automotivo novas especificações para os combustíveis. De acordo Maria Antonieta, a evolução da qualidade dos combustíveis no país é orientada pelas metas definidas no Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), cujo objetivo é reduzir as emissões poluentes decorrentes do uso de combustíveis. Um passo a frente nesse sentido, segundo ela, foi dado com a aprovação de uma nova resolução que amplia o uso do diesel S500, com 75% menos enxofre, para as 146 regiões metropolitanas do país. Atualmente, o S500 é comercializado obrigatoriamente nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Maria Antonieta afirmou que a meta é substituir completamente o diesel metropolitano, que tem 2000 ppm de enxofre, pelo S500, com apenas 500 ppm. De quebra, as novas regras também proibirão expressamente a mistura direta de óleos vegetais no diesel.
Para a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a medida é positiva, pois a qualidade dos combustíveis brasileiros sempre foi um fator limitante à entrada de novas tecnologias de motores. Segundo o representante da Comissão de Energia e Meio Ambiente da Anfavea, Henry Joseph Jr., o alto teor de enxofre no diesel, o baixo número de cetano e a presença de hidrocarbonetos muitos pesados, inviabilizam a introdução de motores com modernos sistemas de pós-tratamento, os quais permitiriam reduções significativas das emissões. (MA/CCS)