Em
junho, foi realizado em São Paulo (SP), o IV Simpósio de Combustíveis, promovido
pela Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA). O evento, que teve como
tema central Qualidade: a sustentabilidade dos combustíveis da produção ao
consumidor, trouxe primeiramente a análise sobre o diesel com baixos teores de
enxofre, como o S10, sua mistura com o biodiesel em diferentes proporções e os
distintos tipos de contaminação a que os produtos estão sujeitos.

Contaminantes e boas práticas

Os
palestrantes foram unânimes em enfatizar o controle da qualidade dos produtos,
especialmente do S10, em todas as etapas do processo, enquanto que o engenheiro
Marco Garcia, da Scania, acrescentou a necessidade de controle mais efetivo da
qualidade do biodiesel puro, já que “há grande variação na matéria-prima”, e,
também, troca mais frequente dos filtros.

Ele
sugeriu a utilização de filtros de biodiesel mais eficientes nos reservatórios,
a aplicação de testes nos produtos, por pelo menos três anos, antes de serem
colocados no mercado, destacando, ainda, a importância da cooperação entre
todos os envolvidos, para garantir a qualidade do diesel até o consumidor. Para
finalizar, comentou ser preciso pensar no futuro, nas restrições ainda maiores
quanto às emissões, previstas no Proconve 8, que “dependem da qualidade dos
combustíveis”.

“O
biodiesel veio como uma lupa para mostrar os problemas já existentes na
qualidade do diesel”, disse Eduardo Cavalcanti, engenheiro especializado em
corrosão de materiais no Instituto Nacional de Tecnologia (INT), lembrando os
transtornos iniciais causados às empresas de distribuição e revenda pela
formação de depósito e borra, quando da elevação do percentual de biodiesel no
diesel. “A especificação inicial do B5 permitiu a comercialização de produtos
altamente ácidos, que levavam à oxidação de reservatórios e sistemas”, disse.

Em
sua explanação, a bióloga Fátima Menezes Bento, da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS), se concentrou na contaminação do diesel/biodiesel por
micro-organismos, revelando que a água é essencial à proliferação de diferentes
fungos e bactérias – que formam a borra –, causando entupimentos e oxidação. Para
evitar isso, recomendou a aplicação de rotinas de manutenção rígidas e o uso de
aditivos.

Roberta
Miranda Teixeira, da Ipiranga, complementou o tema, relatando a evolução das especificações
e das boas práticas no armazenamento do diesel, desde 2008. “A Agência Nacional
do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) determinou normas mais rígidas
para o S10, especialmente quanto à presença de água, número de cetano,
estabilidade oxidativa e contaminação total”, explicou.

Boom do consumo

O
painel seguinte trouxe a discussão sobre o abastecimento nacional. Em sua palestra,
Marlon Arraes Jardim Leal, coordenador do Departamento de Combustíveis
Renováveis do Ministério de Minas e Energia (MME), reafirmou a importância do
etanol na matriz de combustíveis. Ele mostrou os ganhos evidenciados de 1975,
quando o Proálcool foi lançado, até hoje, com redução no custo do etanol e aumento
da produtividade agrícola, e economia de US$ 67 bilhões em divisas, propiciada
pelo uso do etanol em lugar da gasolina.

Marlon
Leal destacou o crescimento da demanda por combustíveis do ciclo Otto de 2005 a
2012, da ordem de 7,6% ao ano, muito acima do crescimento do PIB.

Entre
as expectativas divulgadas na ocasião estava a da retomada da produção de
etanol aos níveis de 2010, elevação do consumo, a instalação de 40 novas
destilarias até 2020 e a estabilização do consumo de gasolina.

Esse
tema também foi explorado por José Raimundo Brandão Pereira, da Petrobras.
Pereira assinalou que, dentro do quadro de forte crescimento do consumo, a
introdução do S10 no mercado interno, com distribuição garantida em todos os
pontos do país pode ser considerada um case
de sucesso em termos de logística, que só foi possível com a atuação
conjunta da Petrobras com a ANP e as empresas de distribuição.

A empresa
estima que mesmo com a aproximação dos preços internos dos combustíveis dos
internacionais, o crescimento da produção de derivados, a entrada em
funcionamento de novas refinarias e destilarias de etanol, a importação de
derivados continuará sendo necessária.

Reafirmando
o “case de sucesso” relacionado ao
S10, Alísio Vaz, presidente executivo do sindicato das distribuidoras
(Sindicom), também constatou que a explosão do consumo pegou a todos de
surpresa: “o Brasil saltou de patamar de consumo, exigindo novos investimentos
em tecnologia e logística”.

Ele
também avaliou que a redução da carga de tributos federais sobre o etanol não
só deverá estimular o consumo, mas também reduzir a informalidade que envolve a
comercialização do produto.

Corre
no mercado a tese de que o mais lógico seria embutir esses tributos na
gasolina, para o Governo não perder receita e, ao mesmo tempo, garantir preço
mais competitivo para o etanol e minimizar as importações de gasolina.

Outro
assunto debatido na ocasião foi o da redução do percentual de enxofre na
gasolina e sua eventual aditivação. A ANP já vem trabalhando com os agentes na
Análise de Impacto Regulatório (AIR), conforme expôs Cristiane Monteiro,
representante da agência. Ela afirmou que o órgão divulgará minuta sobre nova
especificação da gasolina e sobre o registro de aditivos.











































Complementando
essa exposição, Maxim Peretrolchin, da Basf, mostrou o resultado de pesquisas
com o aditivo polyisobutylene amina,
ou, simplesmente Piba. Segundo ele, o produto evita a corrosão dos sistemas e é
dos mais eficazes agentes para controle de depósitos na gasolina, sendo
eficiente em misturas com até 75% de etanol e em motores de injeção direta.