por Cristiane Collich Sampaio

Há 30 anos, o pesquisador e ambientalista francês, Jacques Cousteau, e sua equipe iniciavam uma expedição pelo Rio Amazonas e seus afluentes. Por meio da série televisiva O mundo submarino de Jacques Cousteau, que disseminava informações sobre a vida marinha e os impactos da ação humana nesse ambiente, o grupo tornou públicos os resultados dessa investigação científica, entre os quais a identificação de espécies e os danos causados pela atividade humana inconsequente sobre o meio aquático, principalmente.

No primeiro semestre de 2012, Jean-Michel Cousteau, que participou daquela expedição, esteve no Brasil, dando continuidade ao trabalho ambiental iniciado por seu pai. Além de ter defendido a criação de uma agência mundial dos oceanos e a proteção de 20% dos mares na Rio +20, o fundador da ONG Ocean Futures Society (OFS) formalizou parceria com o governo do Amazonas,  e, ainda, aproveitou para divulgar o livro Jacques Cousteau – o Rei dos Mares, de Brad Matsen, a primeira biografia autorizada pela família.

Posto de Observação – Qual a finalidade da OFS?

Jean-Michel Cousteau – Criada em 1999, como uma homenagem a Jacques Cousteau e para dar continuidade ao seu trabalho, hoje a OFS tem unidades instaladas nos EUA, França, Itália e Brasil. Além de manter o programa de pesquisas, nesse período foram produzidos quase 80 documentários para TV, destinados à conscientização ambiental, que garantiram à entidade vários prêmios internacionais. Outra das nossas funções diz respeito à diplomacia: intermediar o diálogo entre governos e empresários, de forma a encontrar soluções sustentáveis, de longo prazo. Isso porque é preciso mais esforço para que o consumo dos recursos naturais não supere a capacidade de regeneração da natureza, pois, caso contrário, estaremos sacando o capital da nossa poupança – e não apenas o lucro –, o qual um dia vai acabar.

Ao lado disso, desenvolvemos vários programas de educação ambiental, como o Floresta Tropical Durável, que mostra a importância desse ecossistema para a sobrevivência do planeta, uma vez que 20% da água doce do mundo se concentra na Amazônia e as águas do Rio Amazonas chegam, por exemplo, até a costa da Inglaterra. Chico Mendes foi o primeiro a dar a devida importância a essa floresta, também de um ponto de vista prático.

PO – Então, o projeto também engloba o Brasil?

Jean-Michel – Este ano, fizemos contatos com autoridades brasileiras e, no dia 21 de junho, durante a Rio+20, fechamos uma parceria com a Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas, voltada à educação ambiental. O documento foi assinado logo depois da entrega do Pacto da Amazônia à ONU e à Presidência da República do Brasil. Esse é um trabalho fundamental, pois, de 1982 – quando, junto com meu pai, iniciamos a expedição à Amazônia, que durou 20 meses – até agora, 20 milhões de pessoas migraram para a região. Na época, nossa responsabilidade foi compartilhar as informações que obtivemos e, com isso, conscientizar o mundo, ao mostrar que tudo o que se joga fora irresponsavelmente, também em terra e nos rios, termina no mar.

“Temos de pensar em prevenção e num sistema de fiscalização independente das empresas e de governos, que (garanta) que legislações e normas sejam estritamente seguidas.”

PO – Há registros, inclusive no Brasil, de acidentes ambientais causados pela exploração de petróleo no mar. A seu ver, o que é necessário para evitar esses acidentes?

Jean-Michel – Peixes e outros animais marinhos deformados foi o que vimos logo após o derramamento de petróleo no Golfo do México, uma catástrofe de grandes proporções ocasionada por desrespeito às regras de segurança, que causou mortes e afetou mais de 20 mil pessoas. Temos de pensar em prevenção e num sistema de fiscalização independente das empresas e de governos, que supervisione instalações e atividades, garantindo que legislações e normas sejam estritamente seguidas.

PO – O senhor apresentou propostas na Rio+20? Quais? Qual sua avaliação sobre os resultados do evento?

Jean-Michel – A preservação dos oceanos foi um dos temas da Rio+20. Há poucas iniciativas nacionais bem sucedidas nesse aspecto e por isso defendo a criação, pela ONU, de uma Agência Mundial dos Oceanos para gerenciar o uso dos mares. Cerca de 65% das águas oceânicas não pertencem a ninguém, são águas internacionais, por isso proponho que 20% desse total seja transformado em área de proteção, sob a responsabilidade dessa agência. Esse é um percentual viável e poderia trazer grandes benefícios para os ecossistemas submarinos e para a sustentabilidade do planeta. Infelizmente, minhas expectativas foram frustradas na conferência, pois eu esperava que se definissem planos de ação, o que não aconteceu.