por Márcia Alves

A política de combustíveis do governo, que incentiva o consumo da gasolina em detrimento do etanol, tem o claro objetivo de controlar a inflação. Nessa empreitada, o governo não mede esforços ou economiza recursos. Tanto que, neste primeiro semestre, a importação de gasolina aumentou vertiginosamente, atingindo em maio um crescimento de 315%, por um custo de US$ 1,4 bilhão, segundo dados da Agencia Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

Diante da perda de competitividade em relação à gasolina, a participação de mercado do etanol nos automóveis, que em 2009 chegou a 54%, neste ano caiu para 35%. E a estimativa de Petrobras é que ainda em 2012 a participação da gasolina na frota flex alcance 74%. Em nota divulgada recentemente, a Petrobras informa que investiu R$ 13,25 bilhões no primeiro semestre deste ano no setor de abastecimento e refino. Mas, para Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), os investimentos serão insuficientes para atender a demanda, que não para de crescer graças aos subsídios “velados” do governo. Ele observa que essa política prejudica o setor de biocombustíveis.

No relatório Informa Economics, produzido pela consultoria em agronegócios FNP, a avaliação é a de que se o Brasil não expandir sua capacidade de refino até 2020, será um dos maiores fornecedores de petróleo e um dos maiores compradores de derivados, importando mais de 40% de sua demanda. Para o etanol, o relatório prevê um cenário futuro ainda mais crítico. “Quanto mais os preços forem controlados, maior será a procura por gasolina”, afirma.

Nem mesmo os recentes estímulos à compra de automóveis surtiram efeito. Por isso, segundo fontes do governo, até setembro será lançado um conjunto de medidas para estimular o segmento. Estão em estudos a retirada do PIS e da Cofins, a desoneração de investimentos e juros mais baratos para os produtores. Também não se descarta como medida emergencial aumentar a mistura do anidro na composição da gasolina de 20% para 25%.

Em outra frente, o governo quer transformar o etanol em commodity negociada no mercado internacional para garantir preço e mercado. Porém, além da falta de eficiência logística do setor sucroalcooleiro e do endividamento das usinas, o diretor da MBF Agribusiness, Jair Pires, aponta que o Brasil não se estruturou para o desenvolvimento do setor sucroalcooleiro. “Os usineiros também não evoluíram em termos administrativos”, disse.

Para estimular a produção de etanol, seria necessário recuperar os níveis de produção e adotar medidas estruturais, como a desoneração tributária da cadeia de etanol, linhas de financiamento menos burocráticas e uma política de formação de preços mais transparente.