por Márcia Alves



Filas imensas de carros nos postos e falta
de combustíveis. Faz tempo se não viam cenas assim em São Paulo. Os episódios
lembraram a corrida aos postos, que ocorria na época da alta inflacionária,
sempre à véspera de algum aumento de preço de combustíveis. Mas não foi para
fugir de uma alta de preços que uma multidão de motoristas invadiu os postos, disputando
até a última gota de combustível, entre os dias 6 e 8 de março.



O motivo foi a greve de caminhoneiros, que
incluiu os transportadores de combustíveis, em protesto contra a determinação
da Prefeitura de São Paulo, que proibiu, desde 5 de março, o tráfego desses
veículos em horários de pico (das 5h às 9h e das 17h às 22h), durante a semana,
na Marginal do Tietê.



 



Caos anunciado



No fatídico dia 5 de março, quando os
caminhoneiros entraram em greve, o Sincopetro se apressou em alertar a
prefeitura paulistana sobre o risco de desabastecimento. No ofício n° 13/12, o
sindicato argumentou: “como sempre acontece nestes casos, certamente, haverá
uma corrida dos consumidores aos postos e, pela nossa experiência, os estoques
irão durar, na melhor das hipóteses, até a próxima quarta feira, dia 7,
ocasionando um colapso no abastecimento de combustíveis na capital”.



No mesmo ofício, o Sincopetro solicitou ao
prefeito Gilberto Kassab que, “diante da gravidade da situação”, reabrisse a
negociação com os grevistas e permitisse a circulação de caminhões-tanque na
Marginal Tietê para o abastecimento de postos da capital. Mas Kassab se mostrou
irredutível e não abriu espaço para negociação. O resultado, previsto pelo
Sincopetro, foi a quase paralisação da maior metrópole do país por falta de
combustível.



Sem estoques para atender toda a população,
quase todos os estabelecimentos secaram os tanques e cerraram as portas, já no
segundo dia de greve, 6 de março. Para piorar a situação, alguns revendedores
se aproveitaram da confusão para vender combustíveis acima do preço. O
presidente do Sincopetro, José Alberto Paiva Gouveia, classificou a atitude
como “uma traição ao consumidor”. De acordo com fundação Procon-SP, dos 42
postos denunciados pela população, 18 foram autuados e 22 notificados a prestar
esclarecimentos.



 



Fim da greve



Na quarta-feira, dia 7, logo após o juiz
Emilio Migliano Neto, da 7ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, determinar
que os caminhoneiros voltassem ao trabalho, sob pena de multa diária de R$ 1
milhão, o Sincopetro e o sindicato das distribuidoras de combustíveis
(Sindicom) reuniram a imprensa para fazer um balanço da situação. Na coletiva
realizada na sede do Sincopetro, Alísio Vaz, presidente do Sindicom, informou
que a capital e a Grande São Paulo deixaram de receber 120 milhões de litros de
combustíveis, apenas entre os dias 5 e 6 de março.



Com o fim da paralisação, no dia 8, o
abastecimento dos postos começou a ser retomado, com os caminhões saindo das
bases das distribuidoras escoltados por policiais, já que nos dias de greve
alguns caminhoneiros sofreram represálias. Na mesma data, os postos já contabilizavam
seus prejuízos. Um calculou cerca de R$ 45 mil em perdas, por conta dos
combustíveis que deixou de vender e, depois do fim da greve, das horas extras
pagas aos funcionários para dar conta do fluxo de consumidores.



Até o sábado, dia 10, a oferta de produtos
já estava normalizada em mais de 60% dos postos. Graças, em parte, a uma
força-tarefa formada pelas distribuidoras Raizen e Petrobras, que aumentaram o
volume de combustíveis despachados aos postos, em horário estendido no final de
semana, período fora da restrição para tráfego de caminhões.



 O episódio que tumultuou São Paulo por
quase uma semana revela o quanto a cidade está vulnerável a ações de grupos,
que podem prejudicar o funcionamento de serviços essenciais, como o
abastecimento de combustíveis. Diante do anúncio da categoria dos caminhoneiros
de promover uma greve nacional, talvez seja o caso de as autoridades paulistas
começarem a estudar alternativas.