por Denise de Almeida

Parece paradoxal que num país com tantos problemas sociais como o Brasil, em que expressiva parcela da população vive em estágio de extrema pobreza,  a discussão sobre  o mercado dos produtos de luxo comece a chamar tanto a atenção dos estudiosos e do público em geral.

 Só no ano passado, foram movimentados R$ 15,1 bilhões,  crescimento de 22% em relação ao ano de 2009, e, para 2011, a expectativa é de um aumento de vendas da ordem de 18%,  segundo a MCF,  consultoria especializada nesse setor.

 De acordo com a pesquisadora da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo,  Renata Fernandes Galhanone, o  luxo não está mais limitado  ao universo das elites. Tornou-se um importante mercado em termos globais.  "Movimenta cifras consideráveis de dinheiro e se configura como uma fonte notável de atividade  econômica, gerando empregos e renda”, explica Renata, ressaltando que, como acontece  em todo o mundo, também aqui esse segmento movimenta vultoso volume de negócios e está em amplo crescimento.

 São Paulo tem a maior concentração de lojas próprias de grandes marcas internacionais.  No ramo da moda, por exemplo, a lista é grande:  Armani,  Ermenegildo Zegna,  Versace,  Dior,  Louis Vuitton,  Bulgari, Tiffany,  Cartier,  Mont Blanc (único país do mundo com cinco lojas em uma única cidade) e tantas outras.  Muito além da moda,  porém, o setor  de luxo inclui segmentos que vão de cosmética a imóveis, de joalherias a automóveis.

Pelas contas da Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva), as ruas, avenidas e estradas brasileiras estão, hoje,  com 24 Ferrari,  594  Porsche e  5.090  BMW a mais do que há seis meses.  Segundo a entidade, as importações de carros, incluindo as marcas de luxo, estimuladas pela valorização do Real,  dispararam no primeiro semestre deste ano, totalizando mais de 90 mil unidades.

 Pode parecer exagero, mas sobra público para esse tipo de consumo no Brasil.  Dados divulgados pelo Atlas da Exclusão Social indicam  que 10% da população concentram  hoje 45,3% do PIB nacional, o que coloca o nosso país entre os dez maiores consumidores de luxo do mundo, ao lado de países emergentes como Rússia,  China e Índia e México. 

Mas e as pequenas empresas brasileiras têm chances de ingressar nesse mercado?  Para Carlos Ferreirinha, fundador da MCF, os pequenos negócios têm algumas vantagens. Ele explica que muitas das grandes marcas que atuam no setor  iniciaram minúsculas.  “A grife Chanel e a marca de chocolates Godiva, por exemplo, começaram de forma artesanal”, ressalta. 

O especialista destaca que os brasileiros ainda possuem a vantagem de poder agregar à marca uma boa história de empreendedorismo, batalha e conquista.  E isso não exclui postos de combustíveis, já que, em sua opinião, o setor de serviços é a principal área de excelência brasileira no mercado de luxo.  “Para conseguir entrar nesse mercado é preciso se comprometer com o extraordinário, não fazer concessões e se dedicar a surpreender o consumidor, sempre com uma matéria-prima de qualidade e mão de obra dedicada”,  ensina.