por Márcia Alves

A indústria brasileira de etanol é hoje uma das histórias de maior sucesso econômico do país, graças à crescente demanda dos veículos flex. Porém, com as grandes descobertas de petróleo, surgem dúvidas sobre sua vantagem em relação a outros tipos de combustíveis. Será que o etanol conseguirá manter seu atrativo?

O país dispõe agora de uma das maiores descobertas feitas em todo o mundo em décadas, entre elas a de petróleo leve, recentemente anunciada no litoral do Rio de Janeiro, num dos campos de águas profundas da bacia de Santos. Vários fatores, políticos e econômicos, explicam por que o consumo de etanol continuará a crescer, apesar do volume de petróleo descoberto.

"As descobertas da Petrobras são uma fonte importante de recursos para o Brasil. Contudo, não reduzirão de maneira alguma a demanda do etanol, tampouco mudarão as políticas para o setor", declarou o diretor do Ministério de Minas e Energia, Ricardo Dornelles.

Incentivos

As montadoras brasileiras também adotaram o etanol. Em 2010, cerca de 2 milhões de veículos flex foram produzidos no Brasil, contra 500 mil com motores convencionais. Além de isenções fiscais, os fabricantes de carros flex pagam 5% de IPI, ante 7% sobre motores convencionais, na maior parte dos estados, incide sobre a gasolina o ICMS em torno de 18%, enquanto a alíquota de imposto do etanol é de 12%.

Para especialistas do setor, a Petrobras precisa do etanol mais do que o etanol precisa da Petrobras. "Se a mistura fosse reduzida, a gasolina sairia mais cara comparada ao etanol puro e, com isso, o consumidor passaria a abastecer com etanol puro, o que afetaria as vendas da empresa. Por outro lado, se a produção do etanol diminuir, a Petrobras não teria a capacidade de refino para atender à demanda de gasolina e, portanto, teria de importar", diz Joel Velasco, representante da Unica nos Estados Unidos.

Mais investimentos

À medida que a Petrobras se volta cada vez mais para o etanol, outras companhias de petróleo se dedicam à produção e exploração de etanol, enquanto as companhias produtoras de açúcar entram no segmento de distribuição de gasolina.

Empresas do porte da Cosan ajudaram a indústria do etanol a despertar o interesse de petroleiras. A BP está em processo de aquisição de 50% da Cerradinho, grupo sucroalcooleiro do Brasil, enquanto a Shell anunciou que também está se unindo a Cosan numa joint venture, que poderá torná-las as maiores exportadoras de etanol do mundo.

O etanol reduz as pressões de importação e permite à Petrobras vender gasolina no exterior a preços mais elevados. De acordo com o Ministério de Minas e Energia, o consumo de etanol deverá chegar a 37,6 bilhões de litros em 2011, 42,3 bilhões em 2012 e 47,3 bilhões em 2013.