por Cristiane Collich Sampaio


  


Em 22 de março, durante as comemorações do Dia Mundial da Água, debateu-se largamente a diminuição das reservas de água potável – pelo desperdício e pela contaminação de rios, lagos e dos reservatórios subterrâneos –, fato que, com razão, vem preocupando muitas nações. Embora o Brasil tenha sido privilegiado com as maiores reservas hídricas do mundo, estas se concentram na Região Norte, onde vive apenas 7% da sua população. Já o Sudeste, onde estão concentrados mais de 40% dos brasileiros, as reservas são de apenas 6%, fazendo com que em estados como Rio de Janeiro e São Paulo sejam investidas cifras astronômicas para tornar potáveis as águas de suas bacias. E, visando fomentar o consumo mais responsável, pouco a pouco está sendo implantada no país a cobrança pelo uso da água.


Assim, não é por acaso que cresce o interesse empresarial na conservação desse recurso e no seu reaproveitamento após o uso. Trata-se de uma preocupação ambiental, sem dúvida, que traz reflexos positivos para a imagem dessas empresas; mas também tem seu lado econômico.


No segmento de postos de combustíveis a situação não é diferente. Basta observar que significativa parte das tradicionais empresas fornecedoras de equipamentos para esse setor ampliou seu leque de produtos com sistemas de captação de águas pluviais e de reciclagem de água.


 


Chove, chuva


 


Mais do que em outros períodos, entre 2009 e o início de 2010 São Pedro não poupou o Brasil, especialmente os estados do Sudeste. Essa é uma água que, com tratamento simples poderia estar sendo usada para múltiplos fins e, o melhor, praticamente de graça.


Nos postos, essa prática ainda é rara, mas, assim como em outros mercados, a tendência é de aumento. Antecipando-se isso, o Grupo Zeppini-Ecoflex desenvolveu o sistema Hydro Z, destinado à captação e ao tratamento da água de chuva em postos e outros estabelecimentos. Paulo Rogério Fernandez, diretor executivo da empresa, revela que o equipamento pode ser instalado em qualquer posto: “se já dispuser de cisterna e caixa d’água, só irá necessitar de sistema de filtragem e desinfecção”. A captação é feita em telhados e coberturas e encaminhada para cisternas, que devem possuir dimensões que correspondam a 50% de sua capacidade de captação. Segundo ele, o espaço ocupado pelos reservatórios e pelo sistema é variável, dependendo da área de coleta de água.


“O processo usa filtros de areia, para a retenção de sólidos, e depois a água passa pelo sistema de desinfecção, com cloração branda, que garante sua qualidade para diversos usos, mas não a torna potável”, explica. Lavagem de veículos, de pisos, rega de jardins e em vasos sanitários são parte das aplicações indicadas para essa água.


Paulo Rogério informa que “quanto maior o consumo, mais rápido é o retorno do investimento, que demora, em média, 18 meses”. O valor do sistema – que tem vida útil de 15 anos e custo de manutenção praticamente zero – é R$ 15 mil, com financiamento pelo BNES em até 36 meses.


Já a Metalsinter, desenvolveu sistema composto de cinco etapas: captação, que é integrada por calhas, coletores e tubulações; filtração primária, composta por telas para a retenção das partículas maiores; armazenamento em cisterna; filtração secundária, por meio de carvão, para a retirada de partículas menores e eventuais odores; e cloração, para desinfecção.


Sérgio Cordeiro, presidente da empresa, informa que “o custo dos equipamentos é da ordem de R$ 25 mil e que, tomando por base os custos da água da rede pública em São Paulo, com a economia gerada pelo uso da água pluvial num posto, no qual a captação anual seja da ordem de 1,4 mil m3, o equipamento estará amortizado em menos de um ano”.


Conforme declara Jack M. Sickermann, do Consórcio da Chuva 3P Technik-Acquasave, que também se dedica à coleta de águas pluviais, “já existe norma – a nº 15 527/2007 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) – que especifica que a coleta deve ser realizada em telhado ou laje”, já que a captação no solo exigiria outros procedimentos.


 


Uso e reuso


 


“Hoje vemos crescente aumento da demanda para o tratamento dos efluentes da lavagem de veículos e para ter a possibilidade de reusá-los”, comenta Manoel Frederico Teixeira Pinto Filho, diretor industrial da Teixeira Pinto de Garça, fabricante de detergentes e equipamentos para o setor de lavagem automotiva.


Em 2006 a empresa se aliou à Aquaflot – que utiliza sistema desenvolvido na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – para criar a Ecompany Tecnologia Ambiental. O sistema de reciclagem adotado emprega a flotação por ar dissolvido na filtragem desse efluente, para reter seus principais contaminantes: sólidos em suspensão, areia, detergentes, óleos e graxas.


Sua linha Etar é composta por modelos com capacidade para processar de 800 l/h a 10 mil l/h. Mas a empresa também desenvolve equipamentos sob encomenda. “Atendemos os mais variados segmentos, como empresas de ônibus, lava-rápidos, transportadoras e postos de combustíveis, entre outros”, declara. O custo do equipamento – que tem por preço base R$ 25 mil – é variável, de acordo com a capacidade de processamento, valor que pode ser financiado pelo BNDES em até 48 meses.


Procurando fechar o ciclo da água nos postos, a Metalsinter, além de investir na coleta de águas pluviais, também desenvolveu o MS ETE RA, um sistema de tratamento de efluentes, voltado ao reuso da água. Como vantagens, o presidente da empresa destaca o pequeno espaço necessário à instalação dos equipamentos, os custos e a facilidade de operação.


Sérgio Cordeiro explica que o sistema utiliza agentes aglomerantes e floculantes de ação rápida e eficiente. “Após a separação do material floculado, o líquido segue por filtro de carvão, para a retirada dos sólidos coloidais e dos odores, estando pronto para ser reutilizado”, esclarece.


O custo total da instalação, incluindo as obras civis, é de cerca de R$ 40 mil e o do tratamento gira em torno de R$ 2,30/m3 de efluente tratado. Cordeiro afirma que as despesas de instalação poderão ser amortizadas em prazo entre cinco e 23 meses, de acordo com o consumo e os preços praticados pelas empresas de fornecimento de água.


Também a Ceccato, fabricante de lavadoras de veículos, desenvolveu processo que permite a reutilização da água usada em suas máquinas. Cassio Veloso, que responde pela empresa, afirma que para abrigar esse sistema é necessária área de 2,5 X 3,0 m para processar 1 m3/h. Segundo ele, “o custo médio, sem obras civis, é de R$ 27 mil, enquanto que o custo de operação, que inclui reposição da água, energia elétrica e produtos químicos, chega a R$ 320/mês”. O custo pode ser financiado em até 120 meses, dependendo da linha de crédito escolhida pelo cliente.


Cassio acrescenta que o sistema permite reduzir o consumo de água em até 90%, o que significa dizer que a amortização do investimento pode ser dar, em média, entre 12 e 18 meses, conforme o gasto hídrico mensal.


Thierry Seyller, diretor da Freylit do Brasil, declara que com a reciclagem de água, “a economia na conta de água e esgotos de um posto de serviços é enorme, chegando a mais de 90%”. Ele esclarece que, após as etapas preliminares de filtragem, a Freylit utiliza “exclusivo sistema fisico-sinético, que elimina bactérias por meio de alta voltagem”, permitindo a reutilização de até 95% da água e proporcionando economia de cerca de 50% no xampu automotivo.


A empresa fornece equipamento compacto, de 1 m X 1,5 m X 1 m, com capacidade para reciclar 200 l/min. e custo de R$ 49 mil, cuja aquisição é beneficiada por linha de crédito especial, com um ano de carência.