por Márcia Alves




Como descobrir, em questão de segundos, se uma cédula é falsa, ou se uma assinatura foi adulterada, ou, ainda, se uma amostra de combustível não está de acordo com as especificações? A resposta para todas estas questões está na nova técnica desenvolvida pelo Instituto de Química (IQ) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), comandada pelo professor Marcos Nogueira Eberlin. Trata-se da Easy Ambient Sonicspray Ionization Mass Spectometry (EASI-MS), técnica baseada na espectrometria de massa, cuja função é caracterizar a estrutura das partículas de substâncias de vários produtos.


Análise de biodiesel


Por meio da EASI-MS, Eberlin e sua equipe criaram uma metodologia inédita para identificar com rapidez e precisão a qualidade do biodiesel, o qual deverá ser adotado pelo Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro) para certificar o biocombustível produzido no país.


A análise é feita a partir de uma amostra de 300 microlitros de biodiesel livre de impurezas, na qual é adicionada 1 mililitro de metanol e água. A mistura é injetada no espectrômetro de massa, que faz uma varredura de todas as substâncias presentes e emite um gráfico com informações detalhadas dos componentes. Por meio dessa técnica, os pesquisadores conseguem determinar desde a fonte de origem do biodiesel (animal ou vegetal), até o nível de degradação.


Outros usos contra o crime


Diferentemente das técnicas convencionais de espectrometria de massa, a EASI-MS não exige a preparação da amostra a ser analisada, o que agiliza muito o processo. Para descobrir, por exemplo, se uma cédula é verdadeira ou não basta inseri-la no espectrômetro de massa e lançar sobre ela um spray ionizante, que libera íons (partículas eletricamente carregadas) e que funcionam como uma “impressão digital”.


 


“A nota autêntica possui um perfil químico muito característico e o processo detecta até mesmo falsificações feitas a partir de cédulas verdadeiras que são lavadas e posteriormente pintadas com valores maiores”, disse Eberlin. Isso ocorre porque os chamados íons diagnósticos da nota verdadeira estão no papel e não na tinta.


A equipe da Unicamp também usou o método a serviço da Previdência Social, para comprovar a fraude de uma carteira de trabalho, adulterada no de tempo de serviço.  “A tinta não envelhece na caneta, o envelhecimento começa após o contato com o papel”, explicou o pesquisador.


A EASI-MS também serve a outros usos, como detalhar a composição química de drogas, fornecendo dados importantes para a polícia rastrear a fonte, determinar se um uísque foi adulterado etc. Segundo Eberlin, a intenção é reduzir o tamanho aparelho e o preço também, que custa hoje cerca de US$ 20 mil.