por Cristiane Collich Sampaio


 



Mesmo com a grande imigração européia, especialmente nas regiões Sul e Sudeste, o consumo de vinho no Brasil demorou a se desenvolver. Por muitos anos a produção limitada, a qualidade inferior dos vinhos nacionais e o preço proibitivo dos importados inibiram a criação de um verdadeiro mercado. Só por volta da década de 90, com a “abertura dos portos” à importação e o aumento e o aprimoramento da produção interna é que o brasileiro começou a tomar gosto pela bebida.


Para o enólogo Álvaro Cézar Galvão parece não haver restrições ao seu consumo: o vinho pode ser consumido no inverno e no verão, acompanhando ou não dos mais diferentes pratos. “Temos vinhos de variadas graduações alcoólicas e corpo, sem falar nos mais apropriados ao nosso clima de verão – presente em quase 100% do ano em grande parte do nosso continental pais –, que são os espumantes, os brancos e os rosados”, diz. Ele declara que o espumante é o coringa de todas as horas, podendo ser servido com ou sem acompanhamentos: “o que devemos ter em mente é o tipo de espumante, há os mais encorpados e velhos (safrados), os leves, os rosados com corpo e sem corpo.”


 “Há também os brancos mais leves, sem madeira, e os rosados, de variados corpos, para dias e tardes mais quentes, com ou sem gastronomia”, esclarece. Esses vinhos combinam bem com happy hours e com entradas, mas, para as refeições ele prefere indicar os brancos mais encorpados e ácidos, harmonizados apropriadamente, além dos tintos, conforme o cardápio.


 


Para cada situação, várias opções


 


E, por falar em harmonização, esse parece ser o grande segredo. Num coquetel, por exemplo, em que são oferecidos variados tipos de canapés e salgadinhos, as escolhas podem recair sobre espumantes, brancos e até mesmo alguns tintos mais frescos e ligeiros. Porém, o sommelier ressalta que, sem conhecer a predominância dos quitutes, o melhor é optar pelos brancos mais ácidos. Estes, agora com corpo médio e boa acidez, são também sua escolha preferencial para regar um encontro informal, no começo da noite, após o trabalho, já que além de frios e queijos, o menu pode conter algumas frituras.


Apesar de o paladar individual, clima e condimentos utilizados nos pratos serem elementos essenciais na escolha do vinho, é possível estabelecer algumas regrinhas.


Para as saladas e pratos leves com peixes e frutos-do-mar, Álvaro Galvão sugere vinhos brancos com perfeita acidez e álcool integrados. Mas a companhia deve mudar diante de caldeiradas e peixes mais condimentados, com molhos: “nesses casos, podemos ousar um tinto fresco e sem madeira.”


Ele recomenda os tintos leves para acompanhar massas em geral. “Já para carnes grelhadas, tanto de aves como de bovinos e suínos, podemos ter tintos mais encorpados, alcoólicos e tânicos, a depender do tipo de carne; por exemplo a costela, que é mais gordurosa, pede tinto mais tânico”, avalia. Porém, mesmo causando certa estranheza, ele faz coro com outros sommeliers ao afirmar que também espumantes vão bem, especialmente nos dias quentes, em churrascos a beira de uma piscina.


Como digestivos, algumas sugestões: “lembro sempre do vinho do Porto, que pode ser um Tawny refrescado, mas temos também os espumantes Moscatel e os Late Harvest, que acompanham bem as sobremesas e também podem ser degustados sozinhos, ao final de refeições.”


 



Dicas 


 


Apesar de reconhecer que gosto é pessoal, Álvaro Galvão se baseia no seu conhecimento técnico para dar estas dicas:


“Branco de Torrontes, para saladas e entradas frias, como o bom Crios, da Susana Balbo. Como espumante, o novo Fausto Brut Branco, da Pizzato, vai bem com algumas frituras, molhos agridoces, queijos de massa mole e saladas. O Santa Digna, da vinícola chilena Miguel Torres, é um ótimo vinho para acompanhar aves, massas – com molho vermelho não muito picante – e comida indiana leve. Por fim, como um tinto poderoso, para as carnes mais gordas e churrasqueadas, escolho o brasileiro Aracuri, da uva Cabernet Sauvignon.”


 


O engenheiro que virou vinho


 


É assim que o engenheiro e sommelier Álvaro Cézar Galvão se autointitula. Foi a paixão pelo vinho, aliada a circunstâncias favoráveis que fizeram desse engenheiro civil um expert não somente na bebida, mas igualmente em sua harmonização com pratos das mais variadas procedências.


Com formação profissional pela Associação Brasileira de Sommeliers (ABS-SP), desde 1993 atua profissionalmente nessa área. Degustador e consultor para a elaboração de cartas de vinhos e para empresas ligadas ao segmento alimentar, Galvão também desenvolve palestras, harmonizações enogastronômicas e treinamento de pessoal.


Faz parte da equipe que criou o jornal Vinho & Cia, integrando atualmente seu grupo de colunistas e degustadores. Em paralelo, colabora com veículos voltados ao tema, como as publicações Gourmet & Food Service, Jornal Oriundi e revista Claudia, e os sites Estação do Vinho, Adegas & Vinhos e Vinhas & Vinhos.


Quem quiser obter mais informações, pode consultar seu blog http://divinoguia.blogspot.com  e seu site www.adoravelgula.com.br, que trazem temas ligados a gastronomia, enofilia e estilo de vida.