por Márcia Alves


No país, onde a quase totalidade dos veículos vendidos é dotada da avançada tecnologia bicombustíveis, o carro movido a diesel ainda tem sua produção vetada. As razões para isso remontam à década de 70, época em que a crise do petróleo fez o governo proibir a venda desse tipo de veículo. Essa ausência forçada do mercado deturpou de tal forma a imagem do carro a diesel perante os brasileiros, que ainda hoje muitos o consideram ultrapassado, poluidor e barulhento. Mas, no resto do mundo, ele está entre as principais opções de compra.


E nem é preciso ir muito longe para comprovar essa preferência. Na vizinha Argentina, por exemplo, um taxista interessado em comprar um Renault Logan optará, certamente, por um modelo movido a diesel, que, embora seja mais caro do que o movido a gasolina, apresenta menor custo operacional total por quilometro rodado. Mas essa não é a única vantagem. O engenheiro Vicente Alves Pimenta Junior, membro da Comissão de Tecnologia Diesel da SAE Brasil, destaca a maior eficiência e a menor manutenção em relação aos motores ciclo Otto (gasolina, etanol ou gás natural).


Em outros países, os motores a diesel ganharam impulso, segundo ele, com a introdução da injeção eletrônica, que dispensou as velas de ignição e aumentou a precisão no volume de combustíveis injetado. Vicente Pimenta ressalta, ainda, que a alta pressão de injeção melhorou a pulverização e, conseqüentemente, a combustão, reduzindo a emissão de poluentes. Por isso, ele avalia que já passou da hora de o Brasil liberar esse tipo de veículo.



Diesel flex


Recentemente, a Universidade de Madison, nos Estados Unidos, divulgou que os primeiros testes com o motor bicombustível diesel-gasolina, comprovaram um aumento de 20% na eficiência e menor emissão de poluentes.


Mas, ao contrário do sistema bicombustível brasileiro, que mistura gasolina e etanol no tanque, a técnica norte-americana adota dois tanques separados. A mistura dos dois combustíveis se dá no bico injetor do motor a diesel, seguindo para a câmara de combustão na composição precisa para o melhor funcionamento do motor em cada condição de uso.


Os pesquisadores garantem que se a técnica fosse aplicada em todos os motores diesel em uso nos Estados Unidos, haveria uma economia de combustível de 33%.


 


Liberação polêmica


Se passar pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) da Câmara dos Deputados, na qual está é analisado em caráter terminativo, o projeto de lei do senador Gerson Camata (PMDB – ES), que prevê a liberação da venda de veículos de passeio movidos a diesel, dependerá apenas da sanção da presidencial.


Do lado do governo, a proposta é defendida pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Mas, por enquanto, ele é uma voz solitária, já que, além da saraivada de críticas recebidas dos ambientalistas, o projeto também é rejeitado pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.


A seu favor, a idéia do carro a diesel tem a experiência de outros países, onde apenas na Europa registra uma participação de mercado 52,7%, graças à sua maior eficiência e melhor desempenho. Mas, o diesel europeu possui apenas 10 partes por milhão (ppm) de enxofre, enquanto que no Brasil a média é de 1.800 ppm. Daí porque, perante os ambientalistas, o projeto não tem muita defesa.