por Márcia Alves


 


Loira, alta, magra, Gisele Bündchen é, enfim, perfeita. Qual mulher não gostaria de se parecer com ela? A modelo brasileira, porém, está muito distante do biótipo de suas compatriotas – a maioria é morena, cabelos cacheados e tem o corpo cheio de curvas. Frustrante? Para muitas mulheres, sim. A psicóloga Rachel Moreno, autora do livro "A Beleza Impossível - Mídia, Mulher e Consumo", lançado pela Editora Ágora no ano passado, responsabiliza a mídia e a propaganda por “venderem” um ideal de beleza muito difícil de ser atingido.


Segundo ela, a busca por esse padrão é o que alimenta os fabricantes de cosméticos, clinicas estéticas e de cirurgia plásticas, academias de ginástica e outros. “Sustentamos uma indústria milionária que nos engana, explora e faz sofrer”, diz. Não por acaso, o Brasil lidera o ranking de cirurgias plásticas. Conforme um levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, de todas as intervenções realizadas no país, 60% são estéticas e 40% reparadoras. As mulheres são a maioria entre os clientes, 70%.


Uma pesquisa mundial realizada pela Unilever/Dove com mulheres entre 15 e 60 anos, mostrou que 92% gostariam de mudar ao menos um aspecto físico. Outra pesquisa mais recente de Dove também apurou que a auto-estima das brasileiras está em baixa: 14% se consideram feias, enquanto que a média mundial é de 5%. Na pesquisa, apenas 1% das brasileiras se definiram como “belas”. “Quando  apenas 1% das mulheres se vê como bela, algo está errado”, diz psicólogo das agências de modelos Elite e L(ASPAS)Equipe, Marco Antonio de Tommaso.


Rachel Moreno adverte que a “perseguição” ao padrão de beleza também gera frustração. “Ansiedade, inadequação e baixa auto-estima são os primeiros efeitos colaterais desse mecanismo", afirma. Para Tommaso, o problema está em considerar a beleza das modelos, uma exceção genética, como um padrão a ser atingido. “A cultura ocidental faz, mediante autêntica lavagem cerebral, com que as mulheres adquiram uma crença única de beleza: a da magreza absoluta”, diz.


Problema de aceitação


Há quatro anos, Dove vem desenvolvendo um trabalho para ampliar o conceito de beleza, apresentando mulheres comuns como estrelas de seus comerciais. “Queremos que as mulheres percebam que são bonitas à sua maneira”, diz Fernanda Conejo, gerente de marketing de Dove. A escritora Rachel Moreno lembra que somos uma mistura de raças entre brancas, negras e morenas e que devemos nos aceitar como somos, valorizando a beleza da diversidade. “Quem somos e o que fazemos é mais importante do que ser bela”, analisa.


O psicólogo Tommaso acredita que a mulher brasileira será feliz se buscar sua identidade estática, desenvolvendo uma referência própria beleza – não a dos outros. “Com sua auto-estima saudável, ela perguntará si mesma: ‘é bom para mim? ’, diante das exigências da mídia”, pondera.