por Márcia Alves


 


Com 1,6 milhão de quilômetros de estradas, o Brasil só perde nesse quesito para os Estados Unidos, China e Índia. Entretanto, apenas pouco mais de 12% de toda essa extensão é pavimentava, cerca de 196 mil quilômetros, o que coloca o país em último lugar entre as 20 maiores economias do mundo. Os dados são da NTC & Logística, que também aponta o problema do excesso de tráfego. A média brasileira é de 159,3 veículos por quilômetro, número superado apenas pela Coréia do Sul e México.


Para pavimentar mais estradas e recuperar e conservar as já existentes, o governo seguiu o exemplo de outros países, adotando a privatização. Doze mil quilômetros de rodovias brasileiras estão cedidos à iniciativa privada. E é inegável que o estado dessas rodovias é melhor do que as mantidas pelo governo. O asfalto é bem conservado, há pontos de descanso, pista dupla e socorro rápido. Segundo um estudo da Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), desde a privatização, o índice de mortos nas rodovias paulistas caiu 40%.


Uma pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), de 2007, revela, ainda, que apenas 26% das estradas pavimentadas do país possuem condições boas ou ótimas. Destas, as 14 melhores são privatizadas. Entre as estradas consideradas ruins ou péssimas, mais de 80% estão sob gestão pública.


Os dois lados


Mas, a qualidade das rodovias privatizadas pesa no bolso dos motoristas. Dos 28,5 mil quilômetros de rodovias pavimentadas de São Paulo, 3,5 mil estão sob a responsabilidade da iniciativa privada, desde a década de 90. Na época foi escolhido o modelo de equilíbrio econômico, em que as concessionárias assumiram mais obrigações, mas cobram mais pelo pedágio. Daí porque o estado tem os pedágios mais caros, entre R$ 0,10 e R$ 0,12 por quilômetro.


Atualmente, nas novas licitações vence a concessionária que oferecer a menor tarifa. Mesmo assim, especialistas questionam os modelos de privatização por não condicionarem a concessão à entrega de vias alternativas sem a cobrança de pedágio, como ocorre em outros países.


BOX – Na estrada


O quilômetro 84 da Rodovia Fernão Dias, em São Paulo, é o local de trabalho de Valdionor Sena dos Santos nos últimos 20 anos. Como operador de caixa do Posto 555, ele cansou de ver acidentes e enormes congestionamentos, antes da privatização. Hoje, de sua cabine com vista para rodovia ele observa com freqüência guinchos da concessionária Auto Pista socorrendo os veículos, coisa que não existia antes. “Melhorou bastante: o trânsito ficou mais livre, os acidentes diminuíram e até a freqüência do posto aumentou”, afirma.


Já Alexandre Giles, gerente do posto El Shalom, recém inaugurado às margens da Fernão Dias, no Jardim Cabuçu, reclama da falta de iluminação e de policiamento no local, além dos buracos na via. “Estamos cercados por quatro favelas e tivemos de investir em segurança particular para garantir maior tranqüilidade aos clientes”, admite.


A lombada eletrônica que existia no quilômetro 65 da Fernão Dias foi retirada há quase dois anos, desde a privatização. Com isso, Teresa, a gerente do Posto Mairipa, que fica defronte para o local, diz que o número de atropelamentos dobrou. Dados da Policia Rodoviária Federal confirmam que dos 50 óbitos ocorridos na rodovia entre janeiro e abril deste ano, 22 foram por atropelamento. A concessionária Auto Pista informou que no lugar das lombadas pretende instalar equipamentos mais modernos.