por Cristiane Collich Sampaio


 


Sinônimo de poder, status e estilo, ela já virou peça de museu e é cobiçada por colecionadores de diversas partes do mundo. São cerca de 15 centímetros – não raro, cravejados de diamantes, rubis, esmeraldas ou safiras e folheados com materiais como ouro, aço inox ou fibra de carbono – que podem valer mais que um Rolls Royce. Quem não tem restrições financeiras, não poupa esforços para possuir e ostentar uma caneta Montblanc e desfrutar seu encanto.


O objeto de desejo, que leva o nome da montanha mais alta da Europa, situada nos Alpes, tem como marca registrada a famosa estrela branca, que representa os seis glaciais presentes no cume. Atualmente seu modelo clássico custa algo em torno de 300 euros (cerca de 780 reais).


Nascida em Hamburgo, no norte alemão, em 1906, quando a invenção da caneta-tinteiro tinha pouco mais de 20 anos, a Montblanc inaugurou sua primeira loja em 1919. Porém, não demorou muito para a empresa iniciar sua carreira mundial de sucesso. Após sua chegada nas principais cidades alemãs, as primeiras Montblanc começaram a aparecer Paris, Londres e Barcelona. Ao mesmo tempo, a linha de produtos começou a se diversificar. Além das canetas-tinteiros, as lojas passaram a oferecer outros itens, como canetas esferográficas, papel de carta e tinteiro com o timbre da estrela branca.


 


Preciosidades


 


Mas foi somente em 1924 que a grife entrou para o seleto grupo das marcas mundiais de luxo, com o lançamento da Meisterstück (obra de mestre, em alemão), legendária caneta-tinteiro com design tão atemporal e matérias-primas tão inovadoras, que, para sempre, se transformaria no carro-chefe da empresa. Foi dela que derivaram todas as canetas da coleção Meisterstück, incluindo os concorridos exemplares de edições limitadas, lançadas anualmente, a partir de 1992, em homenagem a patronos das artes em seu tempo.


O número 4 810, que adorna a pena de cada unidade, representa a altura da montanha que lhes dá o nome e seus exemplares passam de pai para filho há gerações. O próprio Museu de Arte Moderna de Nova York mantém uma Meisterstück em sua exposição permanente.


Entretanto, a palheta de preciosidades da empresa está longe de se esgotar aí: não são raros os modelos banhados a ouro e prata e incrustados com pedras preciosas. A edição limitada John Harrison, por exemplo, compõe-se de apenas 33 unidades. O corpo das canetas representa o globo, onde o Montblanc original está marcado com um pequeno brilhante. Cada uma custa, no mínimo, 9500 euros. Ainda assim, trata-se de uma bagatela se comparada a Solitaire Royal – que em 1994 entrou para o Guinnes Book como o instrumento de escrita mais caro do mundo –, cujo revestimento com mais de 4800 diamantes negros eleva seu preço a 125 mil euros.


 


Quo vadis?


 


Infelizmente, valores de tal monta atraem para a marca a maldição dos artigos de luxo: a cobiça dos falsificadores. Por isso, além de aconselhar seus clientes – ou candidatos a clientes – a só adquirir os produtos numa de suas butiques ou em sua rede internacional de revendedores autorizados, a grife desenvolveu o sistema intitulado "Quo vadis" (para onde vais?). O clipe de cada caneta recebe um número único, gravado a laser, registrado com o número do cliente no momento da entrega do produto. Assim, se a caneta-tinteiro aparece num ponto de vendas não-autorizado, a empresa sabe a quem recorrer para saber como isso aconteceu.


 


Trabalho minucioso


 


Para garantir a incomparável sensação de uma escrita macia e precisa é fundamental que as duas metades da pena sejam absolutamente retas, caso contrário, a caneta arranha. Por isso, a fabricação das penas de luxo envolve trabalho manual meticuloso, sobretudo feminino. Dividida em cerca de 60 etapas, sua produção pode levar até um mês. No caso da Montblanc, as penas são cuidadosamente cortadas com lâminas de diamante. Outro ponto crucial é o lustroso corpo da caneta, composto por um granulado de resina nobre.


Depois do sucesso das canetas, a marca resolveu investir em outros acessórios como relógios, óculos, peças de joalheria, artigos de couro e itens de perfumaria. Atualmente a marca conta com 360 lojas próprias e 9 mil pontos de vendas em 90 países, produzindo cerca de 3 milhões de canetas por ano, que responde por cerca de 45% dos 3,7 bilhões de euros faturados anualmente pela marca.


A tradicional empresa familiar pertence ao grupo suíço Richemont, também proprietário de outras marcas luxuosas, como Cartier, Piaget e A.Lange & Söhne, que mundialmente emprega cerca de 2,5 mil funcionários.


Por meio de várias atividades internacionais, a Montblanc ainda contribui de modo significativo para a vida cultural contemporânea, com o patrocínio de orquestras, balé, teatro e artes plásticas, escrevendo, assim, mais uma parte de sua história.