por Márcia Alves


 


Uma boa e uma má notícia para o segmento de lojas de conveniência. A boa é que o setor está evoluindo. No último ano, o faturamento cresceu 39%, registrando R$ 1,89 bilhão, e o número de lojas também aumentou 39%, no mesmo período, atingindo 4.800 unidades. O segmento também está cada vez mais consolidado como um moderno e atraente canal de varejo, que concentra a preferência de um público de classe e renda mais elevadas. A má notícia é que todo esse bom desempenho está despertando o interesse de grupos varejistas, inclusive os de maior porte, como os supermercados, famosos por praticar concorrência voraz.


 


Para o consultor Flávio Franceschetti, da Gouveia de Souza & MD, consultoria especializada em varejo, as lojas de conveniência, nascidas e criadas nos postos de combustíveis há 20 anos, tornaram-se um conceito que ganhou força e transcendeu esses estabelecimentos. Ele observa que, hoje, a conveniência está em padarias, drogarias, livrarias e, mais recentemente, nos supermercados, que perceberam que o formato tem agradado em cheio os consumidores modernos. A investida desses grandes varejistas sobre o segmento é clara. O Carrefour, que já tem a Dia%, as menores lojas do grupo, está criando a marca CarrefourBairro, no formato de conveniência, e o grupo Pão de Açúcar lançou o ExtraPerto. Agora, o Wal-Mart também estuda trazer sua bandeira de conveniência Todo Dia, do Nordeste para a região Sudeste.


 


Para as grandes redes, as lojas de conveniência são uma estratégia de expansão de menor custo e boa rentabilidade – R$ 500 mil é o investimento médio para a montagem de uma unidade. O valor é suficiente para tornar a loja mais incrementada que a similar encontrada nos postos.  A área de vendas de um Extra Perto, por exemplo, tem em média 250 m2, não mais que três check-outs, 2,6 mil itens em produtos e atendimento feito por seis funcionários. E, diferentemente das lojas de conveniência dos postos, oferece, ainda, verduras e frutas fresquinhas, fornada de pães, carnes e aves embaladas, alimentos congelados, temperos e grãos e está equipada com forno de microondas e máquinas de café expresso, para servir lanches.


 


Mas essa é uma tendência mundial. Na Inglaterra, a rede Tesco assumiu a Seven Eleven, marca de lojas de conveniência em postos de combustíveis, com a intenção de ter uma bandeira própria. Mesmo assim, o consultor Franceschetti não acredita que os postos do país sofrerão com a concorrência dos supermercados no setor de conveniência. “Pelo contrário, os consumidores perceberão essa concorrência como um elemento de agregação de valor às lojas dos postos, tornando-se mais fiéis”, supõe. Aos revendedores, ele aconselha que acreditem nas lojas como um negócio estratégico. Além disso, orienta que também é preciso investir em treinamento de pessoal e na modernização das instalações e oferecer marcas conhecidas e admiradas pelos consumidores.


 



NOVOS CONSUMIDORES


A consultoria Gouveia de Souza & MD realizou uma pesquisa sobre o perfil, hábitos, motivações e avaliação do canal loja de conveniência entre abril e dezembro de 2006, comparando com os dados da pesquisa anterior, realizada em 2005. Desta vez, a empresa entrevistou 1 952 freqüentadores de lojas de conveniência de São Paulo e do Rio de Janeiro, contra 1 923 da pesquisa anterior. Desse contingente, 86% freqüentam regularmente a loja – resultado que se manteve inalterado nas duas apurações –, dos quais, 66% já utilizaram o serviço de alimentação, sendo que 41% disseram que não sentem falta de mais nada na loja e 21% citaram algum tipo de alimentação que gostariam de encontrar.


 


Um dado novo, revelado pela pesquisa anterior e confirmado nesta, define que o perfil de clientes das lojas de conveniência está se diversificando. Perguntados sobre como chegaram à loja, 62% responderam que vieram de carro. Mas, a novidade é que 32% afirmaram que vieram a pé, sendo que destes, 39% são clientes de postos bandeira branca. Para o consultor da GS & MD, Flávio Franceschetti, esta é uma descoberta nova. Segundo ele, esses novos clientes são atraídos pela facilidade de acesso, pois grande parte das lojas está em locais onde há maior fluxo de pedestres.


 


Outro resultado que vale a pena ser registrado é a tendência de convergência do formato conveniência e desconto. A pesquisa apurou que 32% dos clientes gostariam de ter descontos como incentivo. Especialistas em varejo afirmam que o conceito de desconto não necessariamente está vinculado ao público C e D, pois, também permeia o comportamento das classes mais altas.