por Cristiane Collich Sampaio


 


Um pedacinho de queijo como antepasto, seguido de 80 g de spaghetti di grano duro com molho de tomates frescos e manjericão e de uma taça de vinho; peixe grelhado, temperado com azeite de oliva, alho, limão e sal e acompanhado por legumes, como segundo prato; salada verde, frutas e café completam o cardápio. Este é um exemplo de deliciosa e saudável refeição italiana, baseada nos princípios da dieta mediterrânea.


Mas essa dieta é muito mais que uma proposta alimentar, explica o médico nutrólogo romano Andrea Bottoni, radicado há 12 anos no Brasil, professor assistente, doutor, do curso de medicina da Universidade São Francisco (Bragança Paulista-SP). “O termo dieta tem origem no grego e significa estilo de vida, ligação do homem com seu ambiente, considerando também as tradições culturais e o que se produz em uma determinada região, embora no presente seja considerado sinônimo de privação”, comenta.


Ela se desenvolveu há séculos em países de três continentes distintos – Ásia, Europa e África –, com características diversas, mas que têm em comum, além de alimentos, o fato de serem banhados pelo Mar Mediterrâneo. Bottoni relata que a difusão desse conceito fora dos territórios de origem teve início em 1945, graças ao médico norte-americano Ancel Keys. Ao trabalhar numa pequena cidade italiana da Costa do Cilento, banhada pelo Mediterrâneo, Keys verificou a baixa incidência de doenças cardiovasculares na população, bem como de casos de obesidade, arteriosclerose, diabetes e hipertensão. “Estudos científicos posteriores evidenciaram que os hábitos alimentares e o estilo de vida locais auxiliavam na prevenção dessas doenças e na promoção da saúde daqueles habitantes”, informa.


 


A mesa como ponto de encontro


A dieta mediterrânea prevê alto consumo de frutas, hortaliças, cereais, leguminosas, oleaginosas, peixes, leite e derivados, vinho e azeite de oliva. “Saborosa e saudável, ela é rica em vitaminas, carboidratos, minerais e fibras e pobre em ácidos graxos saturados, como a gordura animal, prevendo, ainda, baixo consumo de produtos industrializados e açúcar refinado”, diz Bottoni.


Ele lembra que, por uma questão cultural, nessas regiões “a mesa é um ponto de encontro de familiares e amigos e as refeições são feitas sem pressa, mesmo em dias úteis, com a degustação dos alimentos e do vinho, principalmente o tinto, que é um digestivo e combate os radicais livres, mas deve ser consumido com moderação”.


Aliás, isso está na essência do slow food, um movimento internacional que se contrapõe ao fast food (o hábito da refeição rápida). “O slow food valoriza os alimentos naturais, cultivados por pequenos produtores locais, respeitando o equilíbrio sócio-ambiental e resgatando o prazer da refeição e a dignidade cultural da alimentação”, diz.