por Márcia Alves



 


Niraldo Haroldo Fontana, proprietário do Auto Posto Fontana, instalado há 23 anos no Brás, bairro da capital paulista, é um dos poucos revendedores que conseguiu obter crédito junto a bancos para a reforma e adequação ambiental do seu estabelecimento. Mesmo assim, apesar de todo o esforço e tempo gastos para atender às inúmeras exigências de garantia, o dinheiro ficou aquém do que precisava e só foi liberado tempos depois de a obra ter sido concluída.


Fontana conta que tão logo foi convocado pela Cetesb, há cerca de dois anos, encarregou-se pessoalmente do projeto – ele é engenheiro civil – e, imediatamente, recorreu a bancos para obter um financiamento de R$ 250 mil, pois os outros
R$ 200 mil seriam assumidos pela companhia. Depois de ter seu pedido negado no primeiro banco privado que procurou, recorreu à Caixa Econômica Federal. Mas, foram tantas as exigências que o financiamento foi liberado apenas um ano e meio depois. “Sofri muito, pois sempre pediam algum novo documento”, recorda-se. Por fim, conseguiu somente R$ 80 mil, com pagamento parcelado em 48 meses. Decidiu então tentar a sorte no Banco do Brasil, por meio do Proger. Gastou menos tempo, cerca de três meses, mas o valor que conseguiu foi menor ainda, R$ 48 mil.


Hoje, Fontana ainda precisaria de mais R$ 60 mil para colocar um novo forro no posto, trocar a iluminação e pintar o estabelecimento, entre outros acabamentos. Mas, sabe que terá de esperar mais um pouco. O Banco do Brasil negou-lhe outro financiamento, pois ele sequer havia liquidado o primeiro. Além disso, também terá de quitar sua dívida com outros bancos, por conta dos empréstimos que contraiu para realizar a obra e atender o prazo do licenciamento ambiental.



 


 


Onde encontrar ajuda


Obter financiamento é difícil, mas não impossível”, afirma a arquiteta Sandra Huertas, que no Sincopetro orienta os revendedores em relação ao licenciamento ambiental. Para ela, casos como o do revendedor Fontana provam que um pouco de persistência pode dar resultado. Mas, alerta que o financiamento deve ser solicitado logo que o posto for convocado pelo órgão ambiental, já que o trâmite é demorado e o prazo para licenciamento limitado.


Para auxiliar os revendedores na obtenção de crédito para a adequação ambiental, o Sincopetro mantém o departamento de meio ambiente, que faz uma pré-análise dos documentos exigidos pela CEF, banco conveniado. Elisete Magalhães, responsável pelo departamento, também acompanha todo o processo até o desfecho. Segundo suas estimativas, nos últimos três anos foram concedidos créditos para cerca de 50% das solicitações. “Costumo orien­tar em relação às taxas aplicadas, aos prazos estabelecidos para crédito e pagamento em cada modalidade, esclarecendo, ainda, que os recursos concedidos nunca chegam a 100%, mas a 80% no máximo”, diz.(MA)


 


 



Pequenos NÃO TÊM VEZ 


Atualmente três linhas de crédito são as mais utilizadas pelos revendedores – o BNDES Automático, que financia até R$ 2 milhões; o cartão BNDES que concede até R$ 250 mil; e o Proger, cujo limite máximo é de R$ 400 mil. Conforme dados divulgados pelo BNDES, até fevereiro deste ano, 3.270 cartões BNDES haviam sido concedidos à revenda de combustíveis em todo o país, somando um crédito total de R$ 123,5 milhões. O montante é baixo, considerando que o banco estatal liberou mais de R$ 50 bilhões em crédito, em 2006 (veja gráfico). A questão é que desse bolo, mais de R$ 40 bilhões ficaram com as grandes empresas. Como o Carrefour, por exemplo, que obteve neste ano um financiamento de R$ 692,4 milhões do BNDES para ampliar a sua rede.


 


“Quando se trata de um pequeno segmento como o nosso o BNDES não se interessa”, queixa-se o presidente do Sincopetro, José Alberto Paiva Gouveia. Segundo ele, há tempos a entidade tem tentado, inclusive com o apoio de parlamentares, desburocratizar a concessão de créditos aos revendedores. “O dinheiro existe, as linhas estão abertas, mas dificilmente o posto consegue atender a todas as exigências do banco”, afirma. Para o revendedor Fontana, “falta vontade política” do Governo para ajudar. “O BNDES deveria ser mais flexível com a categoria que, apesar de pequena, está buscando, a custa de muito sacrifício, adequar-se à legislação ambiental”, afirma. “Estamos fazendo a nossa parte pela natureza”, acrescenta.(MA)