por Cristiane Collich Sampaio
O aquecimento é o maior problema ambiental que o planeta já enfrentou. É imperioso que façamos algo agora, nesta geração, para minimizar a emissão de gases que geram o efeito-estufa, mesmo sabendo que não há soluções no curto prazo. Essa declaração do pesquisador Carlos Nobre, do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Espaciais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTec-Inpe) resume os resultados do último Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado no dia 2 de fevereiro último.
Este foi o quarto painel a mostrar as conclusões das pesquisas realizadas por cerca de 2,5 mil cientistas em todo o mundo sobre o assunto e o mais dramático. Os anteriores ocorreram em 1990, 1995 e 2001 e, embora já alertassem para a probabilidade do aumento da temperatura terrestre ser gerado pela da atividade humana, não foram tão contundentes como o de 2007.
De acordo com declarações de Carlos Nobre, no século XX a temperatura aumentou 0,75o C e a previsão mais otimista é que se eleve mais 2o C no século XXI, pois a atmosfera não consegue se livrar de cerca de 40%, 45% dos gases de efeito-estufa gerados (como metano e gás carbônico). Ele também não parece ter dúvidas de que o aquecimento que se verificou nos últimos 50 anos só pode ser atribuído à atividade humana, quando diz que os ciclos naturais da Terra levam milênios para fazer o que o homem fez em apenas algumas décadas.
No Brasil
Nobre informou que, no dia 27 de fevereiro, estava prevista a entrega ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) do estudo do Inpe sobre as mudanças climáticas e seus efeitos no Brasil, que foi financiado pelo órgão. Mas adiantou algumas conclusões do trabalho:
Em 50 anos, a temperatura no Brasil aumentou 0,7o C e tende a aumentar ainda mais neste século;
As maiores preocupações levantadas referem-se a:
Falta de água no Nordeste, especialmente na caatinga;
Desaparecimento de parte da floresta amazônica e sua substituição por vegetação típica do cerrado;
Aumento da intensidade das chuvas, como já se vê agora, especialmente na Região Sudeste;
Efeitos prejudiciais à agricultura familiar, ao agronegócio e à pecuária nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste;
Impactos sobre a zona costeira, pois o nível do mar, que subiu 17 cm no século XX, poderá ter nova elevação, entre 30 e 60 cm até o fim deste século, com repercussões ambientais, sociais e econômicas;
Os ciclones extratropicais, que são naturais no Hemisfério Sul, deverão aumentar sua intensidade (da mesma forma que os furacões no Hemisfério Norte), gerando danos maiores na costa Sul do país.
Para o pesquisador do Inpe, ainda que o Protocolo de Kyoto tenha definido metas modestas para a redução na emissão desses gases de 3% até 2012 para os países industrializados , representou um marco muito importante. Foi assinado por mais de 140 países, mas, infelizmente, não pelo maior poluidor, os EUA. Todavia, pelas recentes declarações de dirigentes de várias nações, após o anúncio do relatório do IPCC, parece que todos estão cientes da gravidade da situação.
É crescente o interesse internacional pelas fontes não fósseis de energia, renováveis e de baixas emissões. O uso de biocombustíveis têm um enorme futuro nas próximas décadas, prevê Nobre, acrescentando que há muito espaço para a pesquisa voltada à substituição da petroquímica pela alcoolquímica no campo da termoeletricidade, agricultura, indústria e até mesmo no transporte. No Brasil ele destaca a importância do aumento da eficiência agrícola, para elevar a produção da matéria-prima em terras já degradadas, sem que seja preciso expandir essa fronteira em áreas preservadas. Essa é uma ação de Governo. Embrapa e universidades já desenvolvem estudos nesse sentido, agora com esforços maiores, relata.
No Brasil, os consumidores deveriam, por exemplo, dar preferência a carros a álcool e a biocombustíveis, dando assim sua contribuição para a diminuição das emissões de carbono, diz, salientando que, apesar dos aspectos econômicos que podem pesar na escolha, a consciência da necessidade de preservar a saúde ambiental do planeta é crescente.
E, num cenário mais distante, citou o hidrogênio que, apesar de ter tecnologia desenvolvida, ainda se depara com restrições quanto à fonte de energia para produzi-lo, como solar, biocombustíveis ou outros produtos químicos. Hoje, essas soluções estão em pesquisa, assegura.
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