Privatização da BR Distribuidora movimenta setor combustíveis

Com o controle pulverizado entre diversos investidores, empresa poderá ganhar mais eficiência, segundo analistas.

No final de julho, a Petrobras concluiu a operação de venda da BR Distribuidora, empresa líder do mercado, que registra lucro anual de R$ 3,2 bilhões e uma rede de 7.703 postos de combus­tíveis. A operação foi realizada por meio da venda de um lote de ações, que corresponde a 30% do capital da companhia, para um grupo de investidores representados por bancos internacionais. A Petrobras já havia reduzido sua participação na distribuidora no fi­nal de 2017, com uma oferta inicial de ações (IPO) que levantou aproximadamente R$ 5 bilhões, ficando com 71,25% da empresa.

Com a venda da BR, a Petrobras reforça seu caixa em R$ 9,6 bilhões e fortalece o seu programa de desinvestimentos, conside­rado indispensável para reduzir suas vulnerabilidades financeiras.

A ação já estava prevista em seu plano estratégico 2019-2023, que definiu como prioridade a atuação nos mercados de ex­ploração e produção do pré-sal, cuja com­plexidade técnica e logística impõe pesado consumo de capital. A ideia é reduzir a par­ticipação nos negócios de refino, logística e comercialização.

A BR será a primeira empresa brasileira com controle pulverizado, mas com um sócio estatal como principal acionista. A venda foi possível porque o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou, em junho, a privatização de subsidiárias sem o aval do Congresso. Por outro lado, a venda para competidores locais não seria aprovada pelo Conselho Adminis­trativo de Defesa Econômica (Cade), que, recentemente, negou o pedido da Ipiranga para comprar a Alesat, em nome da concen­tração de mercado.

Apesar de não alterar estruturalmente o cenário da distribuição de combustíveis no país, analistas acreditam que a privatização trará mais eficiência à distribuidora, que se tornará mais competitiva. Hoje, o custo ope­racional da BR está na casa dos R$ 80 por metro cúbico de combustível, contra cerca de R$ 60 das demais companhias.

“O que muda é a percepção de risco por parte dos agentes que operam no segmen­to da revenda. Com mais transparência e confiança maior na regra do jogo, o setor de revenda ficará mais atrativo a novos players e aumentará a qualidade e a intensidade da competição”, analisa o professor do Grupo de Economia da Energia da UFRJ (GEE-UFRJ) Edmar Almeida.

Mas, para o sindicato dos petroleiros de São Paulo a venda da BR traz o risco de desabastecimento ou de aumento de pre­ços. A entidade lembra que até então a BR era obrigada por seu estatuto a garantir o abastecimento em todo o território nacio­nal. “Essa empresa nova que surgiu da pri­vatização não terá a mesma obrigação es­tatutária”, disse Gustavo Marsaioli, diretor do Sindipetro.

Por Márcia Alves