Por que controlar o estoque do biodiesel em seu posto

Quando o produto fica estocado por muito tempo pode sofrer autocontaminação, com formação de borra e turbidez, além de corrosão e entupimento de componentes.

Desde que o biodiesel foi introduzido na matriz energética nacional, com a adição de biodiesel ao óleo diesel puro, muitos revendedores têm enfrentado problemas no armazenamento do produto, principalmente pela formação de borra nos tan­ques, oxidação de materiais e consequente não conformidade do combustível de acordo com os padrões exigidos pela ANP.

O fato é que o biodiesel hoje é realidade em nosso país. Atualmente estabelecido em 10%, o percentual obrigató­rio de biodiesel no diesel pode subir um ponto por ano até chegar a 15% em 2023. Com isso, apesar de suas inúmeras vantagens para o meio ambiente – é fonte renovável e me­nos poluente que o diesel tradicional –, o combustível requer atenção especial na estocagem e comercialização nos postos.

Conforme explica Diego Dozorski Conrado, gestor técnico do laboratório Falcão Bauer, o óleo diesel é um produto higroscópico, ou seja, tem uma tendência em absorver água, a qual, junto com o biodiesel potencializa a contaminação microbiana. “Como esses micro-orga­nismos se desenvolvem na presença de água, à medida que se multiplicam, começa a surgir a massa marrom ou preta, conhecida como borra, que fica entre o diesel e a água ou depositada no fundo do tanque”, explica.

O engenheiro químico Reginaldo Cesar dos Santos, da Petroqualy, complementa a informação lembrando que quando o produto fica estocado por muito tempo pode, naturalmente, absorver umidade do ar, gerando, então, a contaminação pela água, com a formação da borra, além de turbidez e corrosão por ataques ácidos aos componentes do sistema, provocando, inclusive, entupimento de telas e filtros.

CONTROLE RIGOROSO DO ESTOQUE

A única maneira de evitar a autocontaminação do combustível, segundo os peritos, é o controle rigoroso do estoque, mantendo a regularidade nas vendas e evitando, com isso, que o produto envelheça no tanque. “Quanto maior o período de estocagem, maior será a deteriora­ção do óleo diesel”, afirma Diego. Reginaldo ainda ressalta que, na mistura de biodiesel ao S500, sua duração é um pouco maior, mas no B10 (diesel S10 + biodiesel), o com­bustível já está sujeito a sofrer mudanças no aspecto físico e químico com 30 dias de armazenamento. A partir desse período, seu uso só é recomendado após análise.

Diante do quadro, e, para evitar problemas com a fiscali­zação, ambos recomendam a limpeza periódica dos equipa­mentos. O intervalo entre uma e outra depende de uma série de fatores, mas, de fato, quem vai determinar a sua periodi­cidade é o volume de combustível movimentado pelo posto.

Para Reginaldo, a limpeza é recomendável mesmo para quem vende muito, por também estar “sujeito à formação de sedimentos no fundo do tanque”, diz. “E, se a venda for baixa, aumenta a probabilidade de fase livre de água”, completa.

MANUTENÇÃO PREVENTIVA

Em qualquer ocasião, entretanto, para efeito de fiscali­zação, o combustível deve estar em conformidade com os padrões estabelecidos pela ANP (veja quadro). Pois, caso contrário, o posto poderá sofrer multa, interdição da bom­ba e tanque, e, posteriormente, dependendo da gravidade, o revendedor poderá responder ao Ministério Público.

Por isso, é fundamental manter as características fí­sico químicas do produto, realizando manutenções pre­ventivas e verificando o fundo do tanque, para o qual, Reginaldo dá a dica: “Usar pasta d´água na ponta da ré­gua (1 cm) ou tubo de PVC até tocar o fundo. Se a pasta mudar de cor marrom para pink, confirma presença de fase livre de água’, ensina.

Por Denise de Almeida